Nova Friburgo comemora 194 anos de muita tradição
Os prédios mais antigos de Nova Friburgo relembram a tradição e a memória da cidade, que faz 194 anos na próxima quarta
Já dizia a expressão popular: “ah, se essas paredes falassem...”. Pois, se as
paredes de alguns prédios em Nova Friburgo pudessem falar, não faltariam belas
histórias. A trajetória de algumas construções, por vezes, se confunde com a
própria biografia da cidade, que festeja 194 anos na quarta-feira com um desfile
comemorativo na Avenida Alberto Braune. Edificações centenárias, como o Colégio
Anchieta, o Nova Friburgo Country Club, o prédio da prefeitura, a Igreja de São
Pedro, o antigo Fórum e a Estação Riograndina, mais do que remeter ao nascimento
do município, refletem o orgulho de seus moradores. O amor e o zelo do
friburguense pela cidade, mesmo após uma tragédia de proporções gigantescas como
a de janeiro do ano passado, continuam assim como essas construções: firmes e
imponentes.
— Antes, a disciplina era mais rígida. Hoje, nem tanto. Muita coisa mudou em
Nova Friburgo, mas o colégio continua o mesmo — diz o padre Luiz Cecci,
ex-reitor e ex-aluno do Colégio Anchieta.
A fala do padre traduz o sentimento de muitos moradores, que veem no Anchieta
um dos maiores símbolos de Nova Friburgo. Fundado em 1886 por padres jesuítas
que acreditavam no potencial educacional da cidade, o colégio começou a
funcionar na casa-grande da antiga fazenda e sesmaria do Morro Queimado, refúgio
de colonos suíços e alemães, que a chamavam de chateau.
Com o aumento do número de alunos, a casa colonial de dois pavimentos foi
dando lugar ao grande e majestoso edifício neoclássico de três andares e 400
janelas, que começou a ser construído em janeiro de 1901, num projeto do
arquiteto Francisco Vital Gomes. Desde 1979, a construção é tombada pelo
Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).
Logo na entrada, chama atenção a escadaria de madeira, toda encaixada (sem
nenhum prego) e envernizada em óleo de baleia, assim como o piso original de
riga, que exige manutenção diária. No memorial da escola, inaugurado há dois
anos, há relíquias recém-descobertas. Por exemplo: os restos mortais de santos
jesuítas, como Santo Inácio.
No entanto, no prédio que já recebeu alunos notórios como Carlos Drummond de
Andrade, o que há de mais preservado é o sentimento de proximidade com a
cidade.
— O Anchieta colaborou muito com o desenvolvimento de Nova Friburgo. Quando
ainda funcionava em regime de internato, os pais visitavam os filhos e acabavam
ficando para morar. Isso impulsionou a economia — afirma o padre Cecci. — Hoje,
os ex-alunos sempre retornam para visitar. Há um sentimento único em relação ao
colégio. Quem pisa aqui uma vez, certamente voltará — diz.
Preservação e restauração da memória
Logo na entrada, um enorme arco natural de bambus saúda os visitantes. Mais à
frente, o olhar é seduzido pelo intenso verde e pelas pontes construídas acima
dos lagos. Conhecido por sua beleza e pela diversidade de espécies de plantas
que abriga em seu jardim, o Nova Friburgo Country Club é um dos lugares mais
famosos da cidade.
A propriedade abriga em seu território a antiga Chácara do Chalet, casarão
construído em 1862 para ser a casa de campo do barão de Nova Friburgo, Antonio
Clemente Pinto. O prédio foi projetado pelo arquiteto Gustavo Waenneldt, o mesmo
que desenhou o Museu da República. Já o jardim é assinado pelo francês Auguste
Glaziou, responsável pela Quinta da Boa Vista.
Atualmente fechada para uma reforma completa, a casa foi tombada em 1957,
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Antes
disso, passou por quatro gerações da família Clemente Pinto, tornando-se
conhecida pelo nome Parque do Conde de São Clemente ou, simplesmente, Parque São
Clemente.
— O próprio imperador Dom Pedro II visitou a mansão algumas vezes em eventos
na cidade. Muitas festas aconteceram aqui — conta Luiz Fernando Folly,
vice-presidente de patrimônio do clube e coordenador do patrimônio material e
imaterial da cidade.
Boa parte da mobília original também será restaurada. O jardim, destruído
durante a tragédia de janeiro 2010, já está novo em folha.
— Foi quase perda total. Caíram sete barreiras nos lados superiores e todos
os lagos, sem exceção, foram totalmente assoreados. Toneladas de terra foram
retiradas durante pelo menos cinco semanas — conta Folly.
Até o final do ano, as obras terminam e as portas do casarão histórico do
clube serão reabertas.
De volta ao Centro, um prédio de grandes colunas gregas chama atenção. É o
antigo Fórum de Nova Friburgo, construído em 1944.
— Ele marca a mudança de estilos arquitetônicos na cidade. O Centro de
Friburgo conta com exemplares de praticamente toda a arquitetura antiga, mas o
prédio sinaliza uma transição para o modernismo — explica Folly.
Inventariada pelo município, a construção deve ser tombada até o final deste
ano, segundo informações da Secretaria de Cultura de Nova Friburgo. A opção por
um estilo greco-romano faz referência à Justiça.
— É o único prédio em estilo grego na cidade. Ele dá uma opulência à Praça
Getúlio Vargas — conclui Folly.
Estações de trem adquirem novas funções
No Centro de Nova Friburgo, o movimentado prédio da prefeitura não lembra em
nada a antiga Estação Ferroviária do Cantagalo, inaugurada em 1873, pelo conde
de Nova Friburgo. Na década de 30, ela foi demolida e, em seu lugar, subiu a
atual construção de estilo neoclássico, chamada Estação Ferroviária da
Leopoldina. O edifício permaneceu funcionando até 1964, e, em 1988, foi tombado
pelo Inepac. Pouco tempo depois, um projeto transferiu a prefeitura de Nova
Friburgo para lá.
— A Estação da Leopoldina e a Estrada de Ferro de Cantagalo foram cruciais
para toda a região. Boa parte da cidade se desenvolveu por causa da estação
ferroviária. O trem de Friburgo serviu para dinamizar a economia da cidade —
conta Luiz Fernando Folly, coordenador do patrimônio material e imaterial da
cidade.
Após a reinauguração da estação, Friburgo se transformou em polo dos
municípios do Centro-Norte fluminense, atraindo moradores de cidades vizinhas,
que dedicadas à agricultura, enfrentavam um processo de esvaziamento.
— A visita de Getúlio Vargas a Nova Friburgo em novembro de 1932, quando a
comitiva presidencial excursionara por vários municípios do interior do estado,
foi uma prova do interesse político que a cidade despertava, em função da
razoável concentração de operários — cita a escritora Maria Regina Capdeville
Laforet, autora de um livro sobre a cidade.
É difícil imaginar, mas, em meados dos anos 40, o trem passava pelas ruas do
Centro, ao lado de automóveis, ônibus e pessoas.
— Hoje, vemos todo esse progresso, essa confusão. Imagine que até trânsito
tem em Friburgo atualmente — conta Luiza Carmina, aposentada de 80 anos, que era
criança nos anos 40 e que acompanhou de perto as mudanças — Quem te viu e quem
te vê! — diz ela, ao olhar para a atual sede da prefeitura.
Em Riograndina, segundo distrito de Nova Friburgo, o progresso também veio
pelos trilhos.
Em 1876, foi construída por lá a Estação Rio Grande, que, hoje, funciona como
um Ponto de Cultura e sede da Associação de Moradores e Amigos de
Riograndina.
O prédio é a única estação original da época do Império, que permanece
exatamente como antes.
A construção foi seriamente danificada pelas chuvas de janeiro de 2011 e,
meses depois, foi recuperada com recursos privados. A reinauguração será
segunda, às 14h.
— Agora, teremos três painéis fixos contando a história da antiga estação
ferroviária e o que ela trouxe para a cidade — conta a diretora do Ponto de
Cultura, Maria Carolina Henriques.
Na ocasião, os cerca de 300 alunos também apresentarão shows musicais, além
de artesanato ao público. O casarão fica na Rua Francisco Caetano da Silva s/nº.
O o telefone para informações é (22) 2540-1463. A entrada é gratuita.
Comemoração na Avenida Alberto Braune
A fotografia que ilustra esta página é datada de 1873, época em que a cidade
dava os primeiros passos rumo à industrialização. A imagem pertence à coleção de
dona Thereza Christina Maria e compõe o acervo da Fundação Biblioteca
Nacional.
Na época, a estação de trem de Riograndina estava em construção e a cidade
ainda conservava boa parte de seu verde, hoje substituído por prédios e pequenas
casas.
O historiador Rodrigo Fonseca lembra que Friburgo, antes de tudo, nasceu do
esforço de seus fundadores.
— Os imigrantes sofreram muito. Superaram a viagem de chegada, doenças,
colheitas perdidas e outras mazelas. Hoje, a cidade é o que é por causa deles —
diz.
Para celebrar os 194 anos de Nova Friburgo, o tradicional desfile de
comemoração acontece quarta, a partir das 9h, na Avenida Alberto Braune. As
bandas Campesina Friburguense e Euterpe Friburguense, além de dançarinos típicos
suíços e alemães, são as atrações.
Às 19h, no Teatro Municipal de Nova Friburgo (Praça do Suspiro s/n, Centro),
a Banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro executará canções. A programação é
gratuita e livre para todas as idades.
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