Inventário de arte sacra inspira criação de museu na Baixada
Diocese de Nova Iguaçu espera abrir, no ano que vem, exposição sobre relíquias religiosas da região
RIO — Para proteger o acervo de arte sacra do Rio, o Instituto Estadual do
Patrimônio Cultural (Inepac) saiu a campo para levantar os bens móveis guardados
em igrejas do estado. Iniciado em 2008, o trabalho já rendeu dois volumes de um
inventário que só deverá terminar em 2014 e, até o momento, conta com mais de
dez mil peças catalogadas. Tem imagens de Nossa Senhora, santos protetores,
querubins, retábulos e pias batismais, entre outros objetos que, uma vez
listados, poderão ser mais facilmente preservados. Mostrar à população parte
dessas relíquias também é uma meta que deverá ser alcançada, em 2013, pela
Diocese de Nova Iguaçu. Motivada pelo levantamento, ela espera abrir o primeiro
Museu de Arte Sacra da Baixada Fluminense.
Historiador e responsável pelo Arquivo Histórico da Cúria de Nova Iguaçu,
Antonio Lacerda de Meneses diz que a instituição tem a maior fonte documental da
Baixada, com originais datados de 1640. O material não se restringe ao tema
religioso. Há papéis da época da ditadura. Mas o museu será dedicado à arte
sacra. Inicialmente serão cerca de 60 peças catalogadas, mas o acervo promete
crescer:
— Fala-se muito do barroco de Minas e da Bahia, mas a Baixada tem rica
produção de imagens. O museu deverá ficar no Centro de Nova Iguaçu, no Seminário
Diocesano Paulo VI ou na Catedral de Santo Antônio. Temos peças confeccionadas
entre os séculos XVIII e XX já catalogadas pela diocese, mas esperamos que donos
de acervos particulares doem objetos para a coleção do museu — diz Antônio, que
já negocia parcerias para a criação do espaço. — Estamos alinhavando tudo com os
governos municipal, estadual e federal, com a iniciativa privada e com o
Instituto Brasileiro de Museus.
Região tem igrejas tombadas pelo Inepac
Cidades como Angra, Paraty e Rio já têm museus do tipo, mas o historiador
acha que há pouca divulgação do acervo. Na Baixada, região estigmatizada pela
violência, ele pretende criar programações culturais, como apresentação de
corais e de música sacra, em lugares como a antiga Matriz de Queimados,
abandonada após a construção da nova igreja:
— A região tem várias igrejas tombadas pelo Inepac. Essas atividades e o
museu são uma forma de garantir a segurança e a manutenção do acervo de arte
sacra.
Os dois primeiros volumes do inventário do Inepac abrangem a Baixada
Litorânea e o Norte e Noroeste fluminenses. Atualmente, os pesquisadores atuam
na Região Serrana, no Médio Paraíba e no Centro-Sul do estado. Embora Nova
Iguaçu já esteja colaborando com o Inepac, as regiões de Baixada, Costa Verde,
Niterói e São Gonçalo só serão visitadas no ano que vem. Já o Rio ficará para
2014.
Paulo Vidal, diretor-geral do Inepac, diz que o inventário não é um trabalho
apenas para quem gosta de arte, mas fundamental para o futuro dos acervos.
— Temos que despertar o sentimento de pertencimento, mostrar à população o
que significa aquilo que, para ela, era só uma estátua — conta Paulo, que também
pretende chamar atenção para peças que desapareceram de igrejas nos últimos
anos. — Há um arquivo com cerca de cem peças desaparecidas. Esse é um trabalho
de formiguinha. O inventário é um trabalho de salvamento. Fazemos pesquisa de
campo, localizamos a peça, identificamos e analisamos as condições do
material.
Começar o trabalho pelo interior não foi por acaso. Segundo o Inepac, havia
uma “sangria” maior nesta região, por falta controle dos bens.
— Algumas cidades não têm noção da importância histórica. Cabo Frio e Angra
dos Reis ainda têm que desenvolver essa consciência — diz o diretor de Bens
Móveis e Integrados do Inepac e coordenador do inventário, Rafael Azevedo.
Para controlar melhor o acervo, o Inepac criou endereços na internet, abertos
à consulta popular: www.artesacrfluminense.rj.gov.br e www.bcp.rj.gov.br.
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