No interior de qualquer grande cidade, sempre há um conjunto de localidades que, de algum modo, refletem a essência deste centro urbano, forjada a partir do encontro secular das pessoas com o lugar e que define sua individualidade e marca característica.
No Rio de Janeiro do século XIX, algumas ruas eram tidas como melhores representantes, por exemplo, a Gonçalves Dias, a Riachuelo e até mesmo a do Ouvidor, a passarela da moda.
Contudo, preferências à parte, só uma delas tinha como nome o adjetivo que caracteriza tudo que aqui se origina.
É a antiga e atual Rua da Carioca.
Sua trajetória começa no século XVII, não passando de um caminho que margeava o morro de Santo Antônio, evitando o terreno alagado para chegar ao Campo da Cidade, onde é atualmente a Praça Tiradentes.
Em algumas décadas, recebia seu primeiro nome, o de Caminho (depois rua) do Egito, conferido a partir de um oratório próximo a seu início, dedicado à fuga da Sagrada Família para o Egito.
Nesta época, só havia um punhado de casas do lado direito, pois junto à encosta ficava a cerca do convento, delimitando a propriedade dos franciscanos.
Eis que, no final deste século, nela fez residência um conhecido procurador de causas, que, andando incessantemente pelos tribunais à busca de questões, recebeu de seus rivais o apelido de "piolho".
Sua fama, aliada ao fato de possuir alguns imóveis na rua, acabou mudando o nome desta, que passou a ser conhecida como "do Piolho" em medos do século XVIII.
Nessa ocasião, a via ganhou seu lado esquerdo, após a cessão feita pelo convento de Santo Antônio de uma faixa de terreno junto ao morro.
Rua da Carioca ainda em reformas, no início do século XX
A inauguração do chafariz da Carioca em 1723 fez com que o nome do rio que abastecia a cidade se estendesse à região da antiga lagoa de Santo Antônio, drenada e doravante conhecida como Largo da Carioca.
Apesar dessa influência, persistia o nome da vizinha rua do Piolho, até que, finalmente, a Câmara Municipal o muda em 1848 para o atual, da Carioca.
Originalmente uma rua de feições coloniais, sofreu grande transformação a partir de 1904/5, quando foi alargada para 17 metros, durante as reformas efetuadas na gestão de Pereira Passos na prefeitura.
A maioria dos prédios atuais datam da época dessa reurbanização, já centenária.
Dotada de comércio diversificado e de qualidade desde o século XIX, representado por lojas de instrumentos musicais, bolsas e malas, ópticas, livrarias e outras, conseguiu manter esta tradição até hoje em dia, apesar das grandes mudanças sofridas pelo centro da cidade.
Nela se encontra um dos poucos cinemas remanescentes dos tempos mais antigos, o Íris, além do Bar Luiz, um dos mais notórios e celebrados do Rio de Janeiro, utilizado como locação no filme "Bar Esperança" de 1983, com Maríla Pera e Hugo Carvana.
Com longo e rico passado, esta rua continua sendo uma das mais conhecidas e representativas daquilo que é tipicamente carioca, um modo de ser e viver único, patrimônio imaterial transmitido a cada nova geração.
Um comentário:
Achei muito interessante as informações postadas neste site.
Antonio Claudio Bento da Silva (Estudande de Guia de Turismo)
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