Projeto prevê reativação de via férrea histórica para Petrópolis
José Luiz de Pinho, Jornal do Brasil
RIO - Rio de Janeiro e Petrópolis estão próximos de
Interesse não falta. Inaugurada em 19 de fevereiro de 1883, a via férrea que liga a Vila Inhomirim, em Magé, à Rua Tereza, em Petrópolis, está desativada desde 1964, privando adeptos do trem de um dos visuais mais bonitos entre a cidade e a serra.
A reinstalação se dará graças ao projeto de lei nº 2736/2009, do deputado estadual João Pedro Figueira (DEM-RJ).
O texto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa como de relevante interesse turístico e econômico para o Rio.
O custo estimado é de R$ 62 milhões.
– É um dos mais belos passeios turísticos do Brasil. Com a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, a região receberá mais 600 mil
A Secretaria Estadual de Transportes, que adquiriu 30 novas composições na China por US$ 9 milhões (R$ 162 milhões), é favorável à revitalização da ferrovia. Mas avisa ser inviável ceder novos trens para o trajeto.
– A prioridade é o transporte de trabalhadores, mas podemos ajudar com mão-de-obra especializada como fizemos em Macaé e Angra dos Reis – disse o secretário estadual de Transportes, Sebastião Rodrigues.
Duas etapas
A extensão de toda ferrovia é de 55 quilômetros, sendo 49 da antiga Estrada de Ferro Mauá, que vai da Leopoldina à Vila Inhomirim – e que precisa ser recuperada – mais os seis do plano inclinado da Serra da Estrela até Petrópolis, que não tem sequer trilhos.
– O prefeito de Petrópolis é do PT, partido do Lula.
O BNDES e os ministérios dos Transportes e do Turismo vão querer investir no projeto – entende João Pedro.
O prefeito de Petrópolis, Paulo Mustrangi, afirma que o município não tem como bancar o projeto.
– Precisamos de ajuda dos governos estadual e federal.
Já tivemos contato com o Ministério do Turismo, que pediu a reavaliação do orçamento – disse Mustrangi.
Nos sites Manifesto Livre e Tudo é Turismo, abaixo-assinados virtuais com mais de mil adesões à revitalização da ferrovia foram encaminhados ao Gabinete Civil da Presidência da República, pleiteando a inclusão do projeto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Os documentos relatam que, na década de 50, a malha ferroviária do Rio era de 3.800 quilômetros. Em 2003, restavam 1.250, ou seja, perda de 60% em trilhos.
Engenheiro aprova, mas pede cuidados na execução
Ex-diretor do Metrô do Rio, ex-presidente do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e um dos autores do plano ferroviário da cidade de São Paulo, o especialista em engenharia de transportes Fernando MacDowell, adverte sobre os riscos de se manter a malha ferroviária da Ferrovia Príncipe do Grão-Pará, que está desativada há 46 anos.
MacDowell argumenta que, para o empreendimento ser bem sucedido, evitando por em risco a integridade física de seus futuros usuários, será necessária uma avaliação criteriosa de toda a malha, que começa na Estação Leopoldina, no Centro.
– Dificilmente esses 49 quilômetros de malha ferroviária até o pé da serra vão estar em bom estado.
Tem que ser feito um estudo multidisciplinar das condições desse material.
Sem contar a parte da serra. Antes de serem instalados os trilhos, é obrigatório checar as condições do terreno – alerta o especialista.
Segundo MacDowell, os dormentes de toda essa malha ferroviária têm que estar alinhados, e os trilhos e fixadores, aparelhos que fazem as mudanças de via, precisam ser novos.
Por tudo isso, o especialista em transporte não acredita que o orçamento estimado para a reativação da Ferrovia Príncipe do Grão-Pará ficará em R$ 62 milhões.
– Acho que não, porque cada quilômetro de malha ferroviária teria de custar em torno de apenas R$ 1 milhão.
Acho muito barato – estima.
– Muito material teria que ser reaproveitado para ficar só nesse valor, e isso comprometeria o empreendimento na obra.
MacDowell, no entanto, é a favor da revitalização da ferrovia, por considerá-la um patrimônio histórico do país.
– O brasileiro é doido por andar de trem, ainda mais num trajeto bucólico e deslumbrante como aquele pela serra acima – admite ele.
– É o tipo do cenário em que valeria até à pena, ao invés de um trem ou uma cremalheira, colocar uma locomotiva daquelas antigas, tipo maria-fumaça, para fazer o trajeto.
Memória JB Ferrovia democrática
A Ferrovia Príncipe do Grão-Pará transportou desde a nobreza até a plebe.
Na viagem inaugural, em 19 de fevereiro de 1883, entre os ilustres passageiros estavam D.Pedro II, imperador do Brasil, e o barão do Rio Branco.
Anos depois, um garoto de 17 anos subia a serra de trem para jogar futebol: Garrincha, futuro craque, que morava em Pau Grande, próximo à estação da Vila Inhomirim.
Ele era juvenil do time da Companhia Têxtil América Fabril, onde trabalhava e disputava campeonatos contra o Petropolitano, Serrano e Cascatinha, de Petrópolis.
Até Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação, fixou residência em Petrópolis, conhecida até hoje como "a casa encantada".
Machado de Assis, Rui Barbosa, Oswaldo Cruz e outras personalidades também subiram a serra via trilhos.
Nos concursos de beleza, misses se hospedavam no tradicional Hotel Quitandinha.
Por mais de 80 anos a Estrada de Ferro deleitou os passageiros.
Até que, em 5 de novembro de 1964, foi considerada economicamente inviável e desativada.
16:23 - 22/05/2010
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