A saúde dos habitantes é uma das necessidades mais fundamentais na vida de qualquer sociedade, sem a qual sua própria sobrevivência pode ser colocada em risco.
Na prestação de serviços voltados a esta finalidade, o elemento humano é parte fundamental, com destaque para o médico, em cuja pessoa o conhecimento sobre moléstias se materializa em uma terapêutica que procura restaurar ao paciente sua plenitude.
A formação em medicina, parte essencial do processo, tem longa história no Brasil, na qual indivíduos e instituições construíram o patrimônio intelectual e material que os profissionais de hoje usufruem.
Em 5 de novembro de 1808, o príncipe-regente D. João instituía o primeiro curso de anatomia e cirurgia do Rio de Janeiro, embrião do ensino de medicina nesta cidade.
A medida foi tomada segundo o conselho de José Correia Picanço, cirurgião-mor do Reino, que anteriormente havia persuadido o monarca a adotar tal iniciativa em Salvador, em 18 de fevereiro do mesmo ano.
Nascia uma nova tradição didática no Brasil, rompendo com as práticas primitivas do passado colonial, onde os tratamentos praticamente se resumiam à sangria e à aplicação de sanguessugas, as conhecidas "bichas", feita por barbeiros.
O magnífico prédio da Faculdade de Medicina da PraiaVermelha, em sua aparência original. Demolido em 1976.
O novo curso se instalou no Hospital Militar do Morro do Castelo, antigo Colégio dos Jesuítas, em condições precárias, o que acabou levando poucos anos depois a se pedir auxílio à Santa Casa, no sentido de se conseguir espaço complementar para o ensino de novas disciplinas, assim como para a prática médica em seu hospital.
O convívio com os militares no Castelo nunca foi fácil, e, em 1845, a faculdade é despejada, indo para um imóvel alugado na rua de Santa Luzia, até que, em 1850, se transfere para o Recolhimento dos Órfãos da Santa Casa, situado na mesma rua e que se encontrava disponível. Neste local, ainda limitado e precário, a instituição funcionou até 1918.
A luta por uma sede adequada e condigna se estendeu por várias décadas, desde a época do imperador D.Pedro II, mas as esperanças sempre eram frustradas pelo governo, inclusive durante a República.
Finalmente, o presidente Wenceslau Brás avaliza a iniciativa, e, em 1916, é assinado o contrato de construção do edifício.
Em 12 de outubro de 1918 é inaugurado o belo prédio em estilo neoclássico, que se tornaria o local mais célebre no ensino de medicina no Brasil: a Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, onde várias gerações de profissionais tiveram o privilégio de se formar.
A necessidade por mais espaço faria com que a faculdade acabasse sendo transferida às pressas para a Cidade Universitária do Fundão em 1973, sob pressão do regime militar, ansioso em isolar os estudantes da vida da cidade ao coloca-os na remota ilha.
Interesses nebulosos e escusos levaram à demolição do prédio em 1976, sorrateiramente destruindo um dos cenários mais notáveis da história universitária brasileira, e que ainda poderia estar prestando serviços inestimáveis à cultura e à comunidade.
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