Uma das áreas de maior trânsito do Rio, a Praça 15 é há quase duzentos anos passagem obrigatória para os milhares de passageiros que seguem para Niterói ou ilhas da baía de Guanabara, tendo seu movimento aumentado ainda mais com o terminal de ônibus da Misericórdia.
Dentre as construções pitorescas dos arredores, uma delas, o prédio do restaurante Albamar, é sempre visto com admiração, mesmo que na maioria das vezes não se consiga entender a presença de obra arquitetônica tão singular, geralmente atribuindo-a a alguma excentricidade.
Mas em verdade — e os mais velhos bem o sabem — a torre, isolada como que em um tabuleiro vazio, é o único vestígio restante do enorme e único Mercado Municipal, prematuramente desaparecido.
Nas últimas décadas do século XIX, a cidade se ressentia da ausência de um entreposto de gêneros alimentícios melhor dimensionado às necessidades da crescente população, pois os existentes já haviam sido superados pela demanda, como no caso da Praça do Mercado, obra de Grandejean de Montigny, conhecido também como Mercado do Peixe (onde é a Bolsa de Valores), de 1841.
Para sítio de construção do novo e maior mercado, escolheu-se o terreno formado pelo aterro efetuado junto à Praia D. Manuel, na Misericórdia.
Após intermináveis negociações entre a municipalidade e o governo federal envolvendo a permuta de terrenos, em 1903 são iniciados os trabalhos, e, em dezembro de 1907, com a presença do presidente, Dr. Affonso Penna e do prefeito, general Francisco Marcelino de Sousa Aguiar, é finalmente inaugurada a obra.
Mercado Municipal, obra notável prematuramente desaparecida
Com área de mais de 20 mil metros quadrados, formada por um quadrilátero de 150 metros de lado, e estrutura de ferro importada da Europa, possuía uma torre em cada um dos cantos, onde havia um portão, além de outros quatro em cada lado.
No centro estava um pavilhão octogonal de maiores dimensões, com 35 metros de altura e um relógio.
A estrutura era dividida por 16 ruas internas, oito radiais e oito transversais, com calçamento de paralelepípedos, sendo as centenas de lojas supridas com serviços de água, luz, esgoto e gás.
Voltado fundamentalmente para o comércio de alimentos, o Mercado Municipal se tornaria o maior entreposto do gênero durante boa parte do século passado, dinamizando a atividade comercial nas ruas próximas.
Porém, mais uma vez o crescimento da cidade exigiria novos investimentos no setor e a construção de centros maiores, acabando por torná-lo superado em sua função original.
No final dos anos 50, a Prefeitura do Distrito Federal já tinha intenção de o demolir em um projeto de urbanização no qual previa-se a construção da avenida Perimetral, obra que mais iria agredir e desfigurar o histórico local.
Apesar da nova via não atingir totalmente o mercado, o poder público uma vez mais não fez cerimônia e destruiu totalmente um patrimônio da coletividade, o qual poderia de outra forma ser preservado para outras finalidades como a cultura, em benefício das gerações futuras.
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