Abandono
Das 58 fortalezas erguidas entre os séculos XVI e XX, só 9 estão intactas
Publicada em 05/06/2010 às 17h14m
O Globo
RIO - As trilhas e escadarias de pedra cobertas por mato, os cadeados enferrujados que já não abrem mais e o desgaste aparente das construções dão a dimensão do abandono.
Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o conjunto paisagístico da Ilha da Boa Viagem, em Niterói, guarda um dos fortes, hoje em ruínas, erguidos no século XVII para a defesa da Baía de Guanabara.
Prestes a completar 300 anos, a Fortaleza da Laje, na entrada da Baía, está abandonada desde 1957, quando foi desativada.
Esses e outros fortes, patrimônios culturais que contam um pouco da História do Rio, estão desaparecendo.
Para se ter uma ideia, das 58 fortalezas erguidas entre os séculos XVI e XX para proteger a região litorânea da cidade, apenas nove sobreviveram intactas.
Onze estão em ruínas e 38 foram varridas do mapa pela ação do tempo.
Veja imagens das ruínas e fortes sem conservação
Na Ilha da Boa Viagem, o abandono não tem dono.
Além do forte em ruínas, a ilha abriga um conjunto de edificações históricas e foi cedida pela Marinha do Brasil à União dos Escoteiros do Brasil, em 1938.
Há pelo menos dois anos que o grupo tenta restaurar os imóveis, mas o processo não vai adiante.
Representantes dos escoteiros culpam a empresa contratada por eles - a Fábrica Fagos Arquitetura - pela demora.
A empresa, por sua vez, culpa o Iphan, alegando que o instituto não para de fazer exigências ao projeto de restauração.
Já o Iphan argumenta que a proposta tem falhas e por isso não foi aprovada ainda.
Iphan: é preciso rever levantamento sobre igreja
De acordo com o superintendente do Iphan no Rio, Carlos Fernando Andrade, o último parecer dos técnicos, de abril deste ano, destaca a necessidade de uma revisão do levantamento sobre o prédio da igreja.
Foi verificado, por exemplo, que o desenho da cobertura não condiz com a realidade:
- Se as exigências forem cumpridas, vamos aprovar o projeto.
Acho dois meses um tempo razoável para se adequarem.
Se isso não acontecer, podemos entrar com uma ação civil pública para obrigá-los a restaurar.
Isso poderia levar dez anos. O melhor é tentar resolver de forma amistosa - disse.
A pequena Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, erguida em 1650, também funcionava como um forte, com baterias voltadas para o mar.
Com a invasão francesa, em 1711, a igreja foi destruída.
Restaram apenas duas paredes.
Primeira construção é de 1532
O primeiro forte do Rio foi construído em 1532 e não existe mais.
O primeiro forte do Rio foi construído em 1532 e não existe mais.
A fortaleza, conhecida como Casa de Pedra, ocupava a região onde atualmente é o bairro do Flamengo, mais precisamente a Rua Barão do Flamengo.
O nome da construção se devia ao fato de que ela se destacava entre as casas de madeira da área.
De acordo com Adler Homero de Castro, historiador do Iphan, a fortaleza foi desativada três meses após ser concluída.
- A cidade foi abandonada e, com a chegada dos franceses, em 1555, foi construído o Forte de Villegaignon.
Ele precisou ser reerguido após ser destruído pelos portugueses quando ocuparam a cidade - contou.
De acordo com o historiador, quando os franceses foram expulsos da cidade, em 1567, os portugueses construíram também o Forte do Castelo, no Centro, que desapareceu com o tempo. Segundo Adler Homero, a partir daí, vários outros foram sendo erguidos ao longo dos anos.
Na atual Avenida Lúcio Costa, na Barra, por exemplo, três fortalezas defendiam a costa da cidade.
Não há nem mesmo vestígios delas atualmente.
- O Rio era o ponto principal de defesa da parte sul do Brasil.
Por isso, teve tantos fortes. A maior parte desapareceu. Atualmente, em todo o estado, há 30 fortes, incluindo os que estão em ruínas - diz Homero.
O último forte construído, em 1943, foi o Paiol da Tambayba, no complexo do Imbuí, em Niterói.
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