Uma das características mais comuns a ocorrer na
paisagem urbana do Rio de Janeiro, desde o século passado, é a rapidez com que
são feitas intervenções, substituindo obras relativamente recentes em
iniciativas intempestivas, na maior parte das vezes não trazendo nada de
benéfico para a população. A sombra do desaparecimento está sempre a pairar
sobre maioria dos imóveis e logradouros, com exceção dos incluídos no
tombamento, por ora protegidos.
O
edifício do Ministério da Viação e Obras Públicas, projeto dos
arquitetos Bosísio e
Ballarini
A ação daqueles que, por motivos políticos ou
pecuniários, atentam contra o que deveria ser considerado patrimônio coletivo —
a paisagem urbana — é facilitada por uma atitude persistente, desvalorizando
tudo que é antigo e equiparando-o a um lixo do passado que não fará falta alguma
quando removido e substituído por algo "moderno", supostamente melhor. É como se
o espaço público compartilhasse a mesma lógica consumista do descarte contínuo,
com uma substituição eterna de objetos percebidos como não detentores de nenhum
valor intrínseco, e que por isso são jogados fora sem cerimônia. Esta postura e
a decorrente indiferença coletiva facilitaram, no passado, empreitadas
maliciosas ou simplesmente estúpidas, que levaram vários marcos importantes da
cidade, muitos de modo totalmente desnecessário.
Um dos imóveis a lamentávelmente desaparecer
dessa forma foi o do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, que
se situava onde é hoje o anexo da Assembléia Legislativa, na Praça XV.
Originalmente destinado a sediar a repartição Geral dos Correios, teve sua pedra
fundamental lançada em 1871, sendo as obras concluídas em 1875. Com projeto dos
arquitetos Bosísio e Ballarini, foi construído durante a gestão de Pereira
Passos, futuro prefeito, enquanto engenheiro do Ministério do Império.
Cais Pharoux
em 1892, visto por quem chegava na barca de Niterói. Ao
centro, o prédio do Ministério da Viação, à esquerda o Morro
do Castelo e à direita a Estação Ferry e a Rotunda,
construção metálica montada para a exibição da pintura
panorâmica de Vitor Meireles sobre a baía da Guanabara
O elegante prédio tinha forma quadrangular e três
pavimentos, quatro pavilhões salientes e um corpo central, e nas suas laterais
jardins protegidos por grades de ferro. Visto do alto, tinha a forma de um H
maiúsculo. O local passou posteriormente a sediar o Ministério da Viação e Obras
Públicas, tendo como ilustre funcionário ninguém menos que o escritor Machado de
Assis. Essa antiga construção foi bem aceita pela população, e o edifício era
tido como dos mais belos da cidade, o que, contudo, não impediu seu
desaparecimento tempos depois.
Hoje em dia vários indivíduos e grupos lutam pela
valorização do patrimônio histórico, no qual dever ser incluída a paisagem
urbana, em um esforço que está levando a uma transformação de uma atitude
coletiva de predominante indiferença. Uma longa luta a combater hábitos antigos
e arraigados, mas plenamente justificável e benéfica, pois com o tempo poderá
evitar que bens valiosos, como o antigo Ministério da Viação, sejam descartados
como algo sem importância.
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