Marquise do prédio do antigo Automóvel Club ameaça desabar
Prédio está abandonado desde que foi comprado pela prefeitura
RIO - O prédio histórico do Automóvel Club do Brasil, no Centro, erguido em
1860 e tombado desde 1965 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
(Inepac), foi interditado na terça-feira pela Defesa Civil. A marquise, segundo
técnicos do órgão, ameaça desabar. Além disso, as esquadrias das janelas também
estão a ponto de cair, pondo em risco os pedestres na Rua do Passeio. A Defesa
Civil foi acionada após denúncias de que o reboco estava se desprendendo. O
imóvel pertence desde 2004 à prefeitura, que o arrematou em leilão realizado
pelo falido Automóvel Club para quitar suas dívidas. Desde então, o local está
abandonado.
Quando comprou o prédio, a prefeitura anunciou que o espaço ia receber um
centro de memória da cidade. No entanto, o projeto nunca saiu do papel. Outras
promessas também foram feitas sem serem cumpridas: o prédio já foi cotado para
abrigar o Museu da Imagem e do Som — que ainda vai ser inaugurado em Copacabana,
no local da antiga boate Help —, uma galeria para o acervo art déco do
colecionador português José Berardo, além da Biblioteca Central do Rio e até um
clube de jazz.
Reforma custará R$ 24 milhões
As últimas informações, de julho do ano passado, eram de que o imóvel
abandonado poderia se tornar a Casa do Samba ou até mesmo uma unidade da
Organização das Nações Unidas (ONU).
— Quando viu as exigências todas, a ONU voltou atrás — diz o secretário
municipal de Cultura, Emílio Kalil. — Se você quiser ocupar amanhã o Automóvel
Club, precisa vir com o projeto e com os recursos.
Segundo ele, o objetivo da prefeitura é encontrar um candidato da iniciativa
privada para ser concessionário do imóvel. Kalil acredita que recebeu pelo menos
dez projetos desde que assumiu a pasta, no ano passado. O problema é que a
empresa terá que bancar toda a reforma do prédio. As últimas estimativas são que
as obras custariam cerca de R$ 24 milhões.
Para o subsecretário municipal de Patrimônio Cultural, Washington Fajardo, o
mais provável é que se consiga um parceiro da iniciativa privada para abrir um
empreendimento comercial.
— Estamos aguardando. Mas, pelas características do Centro do Rio hoje,
naquela região, acredito que uma solução seria repassá-lo à iniciativa privada
para uso comercial. Será, entretanto, um processo demorado. Para a prefeitura
fazer a cessão, há um processo público. É um caso complexo, e não podemos
estimar quando será o desfecho. Até porque não depende apenas de nós — disse o
subsecretário.
Fajardo afirmou que o casarão é um "paciente na UTI" e que, para tentar
salvá-lo, apelou até para Steve Jobs, o fundador da Apple, morto no ano
passado.
— Até enviei uma carta a Steve Jobs pedindo a ele que abrisse uma loja da
Apple no local. Não deu certo — lamenta Fajardo, que fez um vídeo sobre o
interior do prédio, mostrando infiltrações nas paredes, buracos no teto e
janelas quebradas.
Arquiteto sugere casa de shows no imóvel
Enquanto nada acontece, o prédio vai sendo depredado pouco a pouco. Dias
antes do carnaval, o Inepac, durante uma visita técnica, constatou que a fachada
estava em perigo iminente. O órgão solicitou a interdição do prédio à
Subsecretaria de Patrimônio. Notificada ontem, a prefeitura prometeu ir hoje ao
local para retirar a cobertura de vidro da marquise, que, segundo Fajardo,
representa um risco.
Segundo Kalil, a prioridade da prefeitura é restaurar os imóveis que estejam
ocupados, como o Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, na Praça Tiradentes.
É possível, no entanto, que a interdição do casarão de estilo neoclássico na Rua
do Passeio 90 o tenha empurrado para o topo da lista.
— Com essa interdição, quem sabe as coisas podem se acelerar mais — diz o
secretário, que não admite o abandono. — Contratamos seguranças para o local e
fazemos vistorias periódicas.
O arquiteto e urbanista Carlos Fernando Andrade, integrante do Conselho de
Arquitetura e Urbanismo (CAU-RJ) e ex-superintendente do Iphan no Rio, entende
que uma sala de espetáculos cairia bem no antigo prédio, tendo em vista a
proximidade com a Sala Cecília Meireles e com o Teatro Municipal.
— Pelo seu formato, pelos espaços internos, o casarão não permite um uso
muito diversificado. Acredito na viabilidade de um projeto ligado à música. Se a
gente pensar na proximidade com a Sala Cecília Meireles e com o Teatro
Municipal, podemos ter ali uma verdadeira cidade da música — diz Carlos
Fernando. — Espero, como carioca, arquiteto e apaixonado por música, um desfecho
positivo para aquela situação. Há uma gama de possibilidades: cinemas,
biblioteca, espaços culturais. O que não dá é para ficar
parado.
Um comentário:
Esperemos que o desejo do eminente sub-secretário (e de todos nós) quanto ao aproveitamento do espaço, se concretize. Quem perde somos nós,os Cariocas que amam esta cidade e sua história. Que sejam rápidas as autoridades em vislumbrar a solução. Antes que os sem teto ou desocupados ocupem aquele que poderia ser mais um palco da cultura Carioca.
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