Afonso Celso de Assis Figueiredo , Visconde de Ouro Preto (1837 - 1912)
Político e magistrado brasileiro, foi ministro da Marinha e da Fazenda e Membro do Conselho de Estado.
Monarquista convicto, presidiu o último Conselho de Ministro do Império.
Foi preso no dia 15 de novembro, assim como os outros ministros, e após a república foi exilado.
Só voltou ao Brasil em 1891 continuando a participar de movimentos monarquistas.
Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL)
FONTE: CAUSA IMPERIAL
Em junho de 1889, ao apresentar-se o novo ministério na Câmara dos Deputados, o deputado padre João Manuel declarou-se republicano, e concluiu o seu discurso bradando:
“Viva a República!”
Levantando-se, o Visconde de Ouro Preto retrucou energicamente:
— Viva a República, não!
Não e não!
Pois é sob a Monarquia que temos obtido a liberdade que os outros países nos invejam, e podemos mantê-la em amplitude suficiente para satisfazer as aspirações do povo mais brioso.
Viva a Monarquia !
Forma de governo que a imensa maioria da Nação abraça, e a única que pode fazer a sua felicidade e a sua grandeza.
Preso na noite de 15 para 16 de novembro, o Visconde de Ouro Preto foi conduzido ao quartel do 1º. Regimento, onde adormeceu.
Alta noite, entrou no compartimento um oficial, o tenente Menna Barreto, que lhe gritou:
— Acorde e prepare-se, que mais tarde tem de ser fuzilado.
Ouro Preto se pôs de pé e replicou:
— Só se acorda um homem para o fuzilar, e não para o avisar de que vai ser fuzilado.
O senhor verá que, para saber morrer, não é preciso vestir farda!
Exilado em Lisboa, o Visconde de Ouro Preto participava de uma roda de várias pessoas, em visita a um comerciante rico.
Um dos visitantes, que fizera fortuna no Brasil e voltara para Portugal, resolveu interpelar o Visconde, em tom de agrado:
— Hein, Sr. Visconde!
O povo daqui tem mais fibra que o de lá.
Não presenciaria bestificado a queda do regime, conforme a expressão de um ministro da República.
Nem deixaria, sem reação, ser expelido um soberano como D. Pedro II, e uma sumidade como V. Exa.
Com veemência, o Visconde respondeu:
— O senhor não tem competência para julgar a gente da minha terra.
É tão digna, altiva e capaz de bravura quanto a portuguesa.
Pelo menos, lá não há quem deixe o Brasil para vir ganhar dinheiro em Portugal, e depois regresse ao Brasil a falar mal dos portugueses.
Depois destas palavras, houve um longo silêncio.
Então o Visconde ergueu-se, acrescentando:
— Já que ninguém mais protesta contra a injustiça feita a meu País, retiro-me como um novo protesto.
Amenidades entre políticos do Império
Em um folhetim de 1855, dizia José de Alencar:
“No salão recebem-se todas as visitas de cerimônia ou de intimidade; dão-se bailes, reuniões dançantes e concertos.
Conversa-se ao som da música, conferencia-se a dois no meio de muita gente, de maneira que nem se fala em segredo, nem em público.
Se a palestra vai bem, procura-se alguma chaise-longue num canto de sala, e a pretexto de tomar sorvete ou gelados, faz-se uma transação, efetua-se um tratado de aliança.
Se a conversa toma mau caminho, aí aparece uma quadrilha que se tem de dançar, uma senhora a que se devem fazer as honras, um terceiro que chega a propósito, e acaba-se a conferência.
Livra-se assim o ministro do dilema em que se achava, do comprometimento de responder sim ou não”.
O Barão de Cotegipe definia pitorescamente a atividade social e política dos salões:
Não se faz política sem bolinhos.
O Marquês de Abrantes nunca se convencera da surdez do Marquês de Olinda, seu amigo.
Era uma surdez política, que melhorava ou piorava de acordo com a vontade do doente.
Certo dia Abrantes resolveu pôr à prova o assunto.
Enquanto jogavam cartas, disse em voz baixa, quase inaudível:
— Veja lá como joga, velho besta!
— Que diz?
— Digo que o senhor joga admiravelmente...
Terminada e ganha a partida, Olinda perguntou:
— Então, seu Abrantes, o velho besta jogou bem?
Dando uma gargalhada, Abrantes respondeu:
— Ah! seu Olinda, eu sempre desconfiei que o senhor só era surdo quando lhe convinha.
E acertei!
Francisco Acaiaba Montezuma, Visconde de Jequitinhonha, foi senador pela Bahia depois de ter sido o seu nome levado à Coroa três vezes.
O implacável “lápis fatídico” do Imperador tinha sobre ele anotações não muito favoráveis, e a indicação só foi conseguida pela insistência do Marquês de Paraná, presidente do Conselho de Ministros.
Morava em uma casa magnífica com grande chácara, no Rio Comprido.
O Imperador uma vez lhe disse:
— Sr. Visconde, tenho ouvido falar muito de sua residência.
Dizem que é uma bela vivenda.
— Vá Vossa Majestade almoçar lá, e poderá ver que, se não é digna de receber Vossa Majestade, é entretanto confortável para um homem como eu.
O Imperador aceitou o convite, e no dia marcado foi almoçar em casa do Visconde.
Durante a refeição, perguntou a Montezuma:
— O Sr. é fatalista?
— Sem dúvida.
E tenho motivos para o ser.
— Posso saber quais são?
— Olhe, Senhor.
A primeira vez que meu nome veio a Vossa Majestade na lista para ser senador, ao voltar do sertão da Bahia o cavalo em que eu montava tropeçou e eu caí: Vossa Majestade não me escolheu.
Da segunda vez deu-se o mesmo fato, e Vossa Majestade novamente não escolheu o meu nome.
Pela terceira vez deram-se as mesmas ocorrências, e então Vossa Majestade me escolheu.
— Mas não vejo onde está a fatalidade.
— É que Vossa Majestade havia de me escolher, querendo ou não.
Em fins de 1877, o Duque de Caxias, que presidia o Ministério, ficou muito doente.
Para certificar-se do estado de saúde do velho servidor, o Imperador foi visitá-lo na Fazenda de Santa Mônica, e verificou que ele não podia continuar incumbido de tarefa tão árdua.
Para substituí-lo, foi indicado o Visconde de Sinimbu.
Combinado com o Imperador o programa do Gabinete, nos termos acerca dos quais estavam de acordo, Sinimbu tratou de formar a sua lista de ministros.
A entrada de Silveira Martins no Ministério era não só o reconhecimento dos seus grandes serviços na oposição, mas também a satisfação de uma espécie de compromisso.
O notável tribuno era assíduo freqüentador da casa de Sinimbu, onde por vezes repetia que este devia organizar o próximo gabinete liberal.
Mas ouvia sempre a resposta:
— Qual!
O senhor não pense nisto, pois bem deve saber que será o Nabuco.Silveira Martins insistia. Um dia Sinimbu o atalhou:
— Pois bem, se eu organizar o Ministério, o senhor será o ministro da Fazenda.
O novo presidente do Conselho não quis que sua palavra voltasse atrás, e Silveira Martins foi para o Ministério.
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