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domingo, 25 de abril de 2010

MEMÓRIA: O RIO FAMOSO







O Rio famoso




Bisneto resgata memórias de francês que projetou o arranha-céu 'A Noite', o Copacabana Palace e o Hotel Glória




Publicada em 24/04/2010 às 18h04m






Jacqueline Costa



O GLOBO





RIO - Por mais de duas décadas, o edifício "A Noite" foi o maior arranha céu da América Latina feito em concreto armado.






Tanto o Hotel Copacabana Palace quanto o Hotel Glória ainda hoje são marcos incontestáveis da arquitetura carioca.






Os três exemplos têm em comum a assinatura do arquiteto francês Joseph Gire.






Um nome que sempre foi pouco lembrado, falado, divulgado.






O próprio bisneto de Gire, o arquiteto e artista plástico Roberto Cabot, só descobriu há cerca de dois anos que seu bisavô assinou obras tão famosas.






A partir daí, resolveu garimpar mais informações. Depois de concluída a pesquisa, o próximo passo será o lançamento de um livro de arte e a realização de uma exposição e de um ciclo de palestras.




- Há uma lacuna na história da arquitetura carioca. Gire foi completamente esquecido.




Quando ele veio para ao Brasil, já tinha importância internacional.




Na França, foi sócio de um dos maiores escritórios de arquitetura do país, o Gabinete de Arquitetura Lucien et Henri Grandpierre, a partir de 1900 - conta Cabot, coordenador do projeto.





" Há uma lacuna na história da arquitetura carioca.




Gire foi completamente esquecido "





Mais do que falar sobre as obras de Gire, a publicação terá como objetivo mostrar a grande influência dele na construção da paisagem urbana e arquitetônica do Rio, na época capital federal.




Basta uma olhada em fotos do início do século XX, algumas de Augusto Malta, para perceber que os edifícios erguidos pelo francês puxaram o processo de verticalização da Praia de Copacabana, da Praia do Flamengo e da Glória.




Na Praça Mauá, o edifício "A Noite" aparece dominando a região de casarios numa foto aérea encomendada pelo próprio Gire.




O prédio, primeiro art déco do Brasil, projetado junto com Elisário da Cunha Bahiana, teve cálculo estrutural do engenheiro Emílio Baumgart, que previa a ação dos ventos.




Com 23 andares, "A Noite", construído entre 1928 e 1930, foi durante muito tempo um das atrações da cidade.




A conclusão de cada pavimento no número 7 da Praça Mauá era anunciada como uma vitória da construção civil à época.





Cabot explica que seu bisavô fez também muitos projetos para residências particulares.




Além do Copacabana Palace, um dos diversos trabalhos de Gire para a família Guinle foi a Ilha de Brocoió, na Baía de Guanabara, a 200 metros da Ilha de Paquetá.




Encomendada por Octávio Guinle, a mansão em estilo normando tem pisos de mármore português, mosaicos árabes, luminárias art déco, lareira e boiseries (paredes revestidas de madeira).




Foi adquirida pela prefeitura do Distrito Federal em 1944.




Em 1960, com a mudança da capital para Brasília, passou a fazer parte do estado da Guanabara.




Hoje, a residência oficial de verão do governo estadual está passando por uma ampla reforma para ser aberta à visitação pública.

O edifício Praia do Flamengo (o primeiro prédio de apartamentos do bairro, conhecido como o Palacete de Areia), o Palácio Laranjeiras (em parceria com Armando Silva Telles) e a antiga sede da Sul América, no Centro, foram outros projetos que levaram a elegante assinatura de Gire na cidade.




Cabot, que trabalha em parceria com a mulher, a produtora cultural Rebecca Lockwood, documentou, até agora, 20 construções.




O arquiteto - que nasceu em Puy en Velay, na região da Auvergne, na França, em 1872, e morreu em seu país, em 1933 - levou seu requinte arquitetônico a outras cidades brasileiras, como São Paulo, onde projetou o Hotel Esplanada.




Na Europa, teve, entre os seus clientes, o Príncipe Orloff e a família Caran D'Ache.





- A pesquisa é difícil. Gostaríamos de pedir que, se alguém tiver algo que possa contribuir com o nosso trabalho, nos procure - diz Cabot.





O livro, que será lançado até o fim do ano, deve ter 300 páginas, recheadas com cerca de 400 fotos antigas e novas das obras do arquiteto, além de plantas e desenhos originais.




A arquiteta Cristina Cabral, doutora em História, será responsável por parte dos textos.





Para o arquiteto e urbanista Antônio Agenor Barbosa - professor do departamento de História e Teoria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ - , o fato de Gire ter sido esquecido é consequência da falta de uma cultura arquitetônica.





- Cultivamos a literatura e a música, mas não a arquitetura. Gire era um artista e as pessoas, em geral, não associam o nome a suas obras.




"A Noite", por exemplo, mudou a paisagem do Rio.




Este projeto é importante por ser um investimento na memória.

Um comentário:

Cristina Reis disse...

Um País sem cultura, é o Povo sem memória.