No início do século XVIII, a área próxima a atual Avenida Passos ainda era um espaço indefinido e semi-agreste. Pouca gente morava em tão afastado e desvalorizado rincão, quase sem casas ou construções de qualquer tipo, sendo esse exatamente o motivo pelo qual um grupo de escravos e libertos ergueu uma capela dedicada a São Domingos de Gusmão, que emprestou seu nome a toda área para além da rua da Vala (Uruguaiana).
Nesse espaço de contornos ainda indefinidos, foram instaladas a polé dos militares (pelourinho) e a fôrca, sendo essa uma das razões pelas quais muitos acreditam ter sido Tiradentes aí enforcado, e não onde se situa a escola que leva seu nome. Além disso, era uma área onde eram executadas punições a militares, como o alferes Joaquim José da Silva Xavier.
Igreja de N.Sª do Terço, quase trezentos anos de história
no coração do Saara
Não muito distante da fôrca foi construída em 1747 a Igreja de São Elesbão e Santa Ifigênia, conforme em artigo nosso abaixo, no único caminho ali existente, o de Capueruçu, que recebeu no trecho o nome de Santa Ifigênia, após a construção do templo. A antiga vereda é hoje a rua da Alfândega. Em um terreno próximo, o padre Inácio Fernandes Fortes levantou em 1737 uma capela dedicada ao Senhor dos Passos, a qual daria seu nome ao caminho paralelo à rua de Santa Ifigênia (Alfândega) progressivamente aberto bem em frente. O padre Inácio legou a capela ao seu parente capitão José Fernandes Fortes, o qual não teve recursos para sua manutenção e a transferiu para a Mitra, o que não impediu sua decadência.
Na mesma época da construção da capela, era fundada na Igreja de São José a Irmandade de N.Sª do Terço, que lá permaneceu até 1815, quando foi iniciada a reconstrução do templo, e a imagem da Virgem do Terço teve de ficar na sacristia. O sonho da casa própria só se concretizaria em 1842, quando a Capela do Senhor dos Passos foi cedida à Confraria de N.Sª do Terço, assim permanecendo até os dias de hoje. Foram feitas obras de recuperação, que permitiram ao templo iniciar essa nova etapa de sua existência.
A Igreja de N.Sª do Terço foi desde suas origens uma construção bastante modesta, mas é apesar disso mais uma peça valiosa do patrimônio histórico carioca, com quase trezentos anos de idade. Tem a vantagem de se situar no interior de um conjunto arquitetônico homogêneo e antigo, que compõe um contexto visual consonante, diferentemente de outros templos que desapareceram entre as massas opressivas dos espigões, símbolo enganoso de progresso cujo crescimento desordenado quase sempre leva ao desaparecimento de trechos inteiros da cidade.
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