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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Um passeio pelas fachadas do Centro do Rio


Enviado por Jorge Antonio Barros e Luiz Eugênio Teixeira Leite -
7.8.2012
|
8h00m
patrimônio arquitetônico

Um passeio pelas fachadas do Centro do Rio

O carioca que anda com a cabeça nas nuvens, olhando para o alto, pode colher algo melhor do que reboco de marquise, pingo de ar condicionado e sujeira de pombo. É do alto que vem um Rio que a gente não conhece. Após 12 anos de pesquisa, o fotógrafo e designer Luiz Eugênio Teixeira Leite documentou mais de mil ornamentos que guardam simbolismos da arquitetura carioca, sobretudo no estilo eclético, uma marca das construções do Centro do Rio, no início do século XX.

O resultado está no livro "O Rio que o Rio não vê" (Aori Produções Culturais). Em dois casos, o designer descobriu raridades, como baixo-relevo de metal folheado a ouro baseado na partitura do primeiro arranjo do Hino Nacional -- numa das rotundas do Teatro Municipal do Rio -- e a imagem do "cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" na forma de um...asno, num prédio da Rua Teófilo Otoni 152. Eugenio suspeita que a maldade foi vingança do artista contra o construtor, que não lhe pagou em dia. Ou seria uma brincadeira de algum adepto do jogo de bicho? Deu burro na cabeça. 

-- Milhões de cariocas desperdiçam diariamente a espetacular aula a céu aberto de história da arte e da sociedade brasileiras que representa o Centro do Rio. Como localidade história inicial de fundação da cidade, o Centro está repleto de construções civis e religiosas nascidas ao longo desses quase 500 anos de civilização carioca. E como núcleo principal de uma cidade que foi sede da Colônial, do Império e da República por quase 200 anos, ali se encontram instaladas as sedes das mais diversas instituições públicas e privadas, como igrejas, museus, teatros, bibliotecas, bancos, seguradoras, companhias de navegação, entre outras -- diz Luiz Eugênio. 

O livro do fotógrafo é um passeio pelos tesouros da arquitetura carioca e brevemente será mesmo um roteiro cultural guiado por Luiz Eugênio, no qual os participantes não poderão abrir mão de binóculos para ver todos os detalhes dos frontspícios dos edifícios das duas primeiras décadas do século XX, quando houve o apogeu daquela tendência. O levantamento iconológico da cidade levou em conta o que o pedestre pode ver da rua, sem subir em qualquer outro prédio. 

Luiz Eugênio conseguiu mapear a ideologia da construção carioca no início do século XX. Os ornamentos em geral apresentam símbolos lúdicos. Há muitos prédios com a imagem de Mercúrio, o deus dos comerciantes -- a classe em ascensão no Rio do início de 1900 -- além de figuras sinistras como a do grifo --- animal mitológico, uma espécie de leão alado. Em prédios como o da Assembleia Legislativa, os ornamentos simbolizam força, ordem e progresso, numa época em que a política era menos adúltera. No Teatro Municipal, que foi recentemente reformado por ocasião de seu centenário, Luiz Eugênio resgata a força de seis esculturas de Rodolfo Bernardelli, que representam a música, a poesia, o canto, a dança, a comédia e a tragédia. Categorias artísticas ganham imagens humanas. 

Editado pela Aori Produções Culturais, com patrocínio do BNDES, o livro tem 300 fotografias e belo acabamento gráfico do designer Victor Burton. 

Na apresentação do livro, o professor Nelson Pôrto Ribeiro. do departamento de arquitetura da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), ressalta a importância do livro que pela primeira vez criou um acervo com os ornamentos dos prédios. "O Rio que o Rio não vê" é também um Rio de alegorias, prática simbólica de tradição milenar na cultura ocidental que recebeu um golpe de morte quando do surgimento do pensamento iluminista do século XVIII e da qual o florescer do ecletismo parece ter sido o último suspiro: o ecletismo é o último período artístico que ainda incorpora a alegoria como elemento constitutivo da sua essência -- e aqui que me explico àqueles que rejeitam o essencialismo, penso na essência do ecletismo tal como penso na fragrância de um perfume".

Um roteiro extraído do livro, por Luiz Eugênio Teixeira Leite

1. PRAÇA FLORIANO S/N 
TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO, PROJETO DE FRANCISCO DE OLIVEIRA PASSOS E ALBERT GUILBERT, 1904



Sob grande cartela ornada com ramos de carvalho na qual estão representados alguns instrumentos musicais, está o mascarão que representa o deus Pã coroado, meio homem, meio animal, com sua peculiar barba e seus chifres de bode. Amante da música, sempre carregando uma flauta, Pã está relacionado à natureza inteligente, fecunda e criadora. Deus do tudo, Pã deu origem à palavra pânico, esse terror, essa excitação que se espalha em toda a natureza, em todo o ser, ao sentir a presença desse deus que perturba o espírito e enlouquece os sentidos. Como a poesia. Como a música.



Entre os capitéis das colunas das rotundas, diversos instrumentos musicais, a lira ao centro, estão aqui representados junto às duas clássicas máscaras teatrais, a Tragédia e a Comédia. Entrelaçada na lira está uma partitura, na qual se lê “Tempo di Marcia”. Trata-se do primeiro arranjo para o hino nacional. 


2. AVENIDA RIO BRANCO 199 
ANTIGA ESCOLA NACIONAL DE BELAS ARTES, PROJETO ORIGINAL DE ADOLFO MORALES DE LOS RIOS, 1906 
ATUAL MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES 

HONÓRIO DA CUNHA E MELLO (1879-1949) 
BAIXO-RELEVO EM TERRACOTA 
1906-08

O projeto original previa 8 nichos para a colocação de esculturas relativas às grandes civilizações da Antiguidade, abaixo dos quais estava escrito o nome de cada uma dessas civilizações. Os nichos estão hoje vazios, pois o concurso que previa a execução das esculturas foi suspenso ainda em 1912. Acima dos nichos estão os 8 painéis em terracota executados por Cunha e Mello aqui estudados. 

Ocupando todo um quarteirão, o museu está limitado frontalmente pela Avenida Rio Branco e faz fundos com a Rua México. As fachadas laterais dão para a Rua Heitor de Melo e para a Rua Araújo Porto Alegre. Um pedestre que comece a observar os 8 painéis executados em terracota por Cunha e Mello por toda a extensão da fachada verá: a Pérsia e a Assíria na Rua Heitor de Melo, o Egito, a Grécia, Roma e a America na Avenida Rio Branco e, por fim, a India e a China na Rua Araújo Porto Alegre. 

Ao lado estão o nicho e o painel em terracota relativos à America. Nas páginas seguintes estão outros seis trabalhos. O painel relativo à civilização persa não se encontra aqui reproduzido.


EDWARD CALDWELL SPRUCE (1849-1923) 
DOIS BAIXO-RELEVOS EM TERRACOTA 
1906-08

Vemos aqui mais duas cenas executadas pelo escultor inglês Spruce. A cena acima traz doze pessoas em três grupos. O grupo central, formado por três pessoas, é dominado pela alegoria da Arquitetura, portando a maquete do Capitólio romano e tendo, à sua direita, figura também relacionada à Arquitetura, pois conduz esquadro, fio de prumo e desenho. À sua esquerda está a Escultura, que tem à mão uma estatueta. O grupo no canto inferior esquerdo, composto por quatro pessoas, é dominado pela figura de um escultor e seus instrumentos de trabalho. No grupo da direita, de cinco pessoas, vê-se um sacerdote, crucifixo em punho. Completam cada grupo, no primeiro plano, sentadas nos degraus das escadarias de um suposto templo, duas mulheres apontando para livros abertos. Seria possível ver na da esquerda uma alegoria às letras profanas, já que ela tem os seios à mostra, enquanto a da direita, mais recatada, representaria as letras sagradas? Ao fundo nota-se parte da fachada do Erechtheion e as colunas em círculo da Praça de São Pedro, no Vaticano, de Bernini. Pode-se perceber ainda, no chão, outro evidente símbolo relacionado à arquitetura clássica: um capitel coríntio.


EXECUTADOS POR FELIX GAUDIN (1851-1930) SEGUNDO DESENHOS DE RAPHAEL FREÏDA (1877-1942) 
18 MOSAICOS EM PASTILHAS DE VIDRO 
1906-08 

Nas fachadas das ruas Heitor de Melo e Araújo Porto Alegre encontram-se em perfeito estado de conservação 18 mosaicos retratando a imagem em corpo inteiro de 16 gênios da cultura universal, pintores, arquitetos e teóricos que mais influenciaram a arte clássica em todos os tempos, além de duas representações de ferramentas de trabalho do artista. Os mosaicos da Rua Heitor de Melo, da esquerda para a direita do observador, representam: as ferramentas do gravador, Juan Agustín Ceán BERMÚDEZ, Francesco MILIZZIA, Eugène VIOLLET-LE-DUC, Vincenzo SCAMOZZI, Francisco PACHECO, Charles BLANC, Giorgio VASARI e Marcos VITRÚVIO Polião. Na fachada da Rua Araújo Porto Alegre, também da esquerda para a direita, são eles: LEONARDO DA VINCI (foto), Giacomo Barozzi da VIGNOLA, Johann Joachim WINCKELMANN, François MANSART, JUAN DE ARPHE y Villafañe, John RUSKIN, Leon Battista ALBERTI, Henri-Marie Beyle (dito STENDHAL) e finalmente as ferramentas do pintor. Alguns autores sugerem que o risco tenha sido executado por Henrique Bernardelli (1857-1936). (0307.jpg) 


3. PRAÇA FLORIANO S/N

CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO 
PROJETO DO ESCRITÓRIO TÉCNICO HEITOR DE MELLO (FRANCISQUE CUCHET E ARCHIMEDES MEMORIA), 1920 

JOSÉ OCTAVIO CORRÊA LIMA (1878-1974) 
ESCULTURAS EM CIMENTO MODELADO E BAIXO-RELEVO EM ARGAMASSA 
1923 C.

Junto aos torreões do Palácio Pedro Ernesto estão frontalmente quatro esculturas representando os estágios por que passou a cidade do Rio de Janeiro ao longo de sua história: a Cidade Primitiva e a Cidade Colonial, de um lado, e a Cidade Imperial e a Cidade Republicana, vistas aqui, de outro. 

No frontão, estilizadíssimo e em interpretação livre, o brasão da cidade destaca a caravela, indicando o correto rumo a seguir. 

O programa alegórico deste prédio se encontra mais detidamente tratado na Introdução desta obra. 


4. AVENIDA RIO BRANCO 219

BIBLIOTECA NACIONAL, PROJETO DE HECTOR PÉPIN, 1905-1910 
ATRIBUIÇÃO A FRANCISCO MARCELINO DE SOUZA AGUIAR 

EXECUTADO SEGUNDO MAQUETE DE 1908 DE MODESTO BROCOS Y GÓMEZ (1852-1936) 
BAIXO-RELEVO EM BRONZE 
1910 C.

Nas páginas anteriores está o monumental frontão da Biblioteca Nacional. Ao centro do tímpano, de pé sobre uma tribuna, uma jovem de túnica e sandálias, tendo à mão direita uma tocha, e à esquerda ramos de louro; por trás dela, o Sol. À sua direita, quatro figuras em três grupos – a Imprensa, a Paleografia e a Cartografia; à sua esquerda, cinco figuras em três grupos -- a Iconografia, a Numismática e a Bibliografia. 

A jovem mulher simboliza a República Brasileira, pois exibe os atributos da Liberdade e da Ilustração – o barrete frígio e a tocha -, e junto ao peito as armas do Brasil. Os ramos de louro representam a Glória e a Vitória, e as 22 estrelas que a circundam, os 22 estados brasileiros. 

Quanto aos seis grupos à esquerda e à direita da República, o da extrema esquerda é uma Alegoria da Cartografia: uma jovem escreve sobre um mapa à sua frente enquanto no chão estão um livro, um globo terrestre e outro mapa; o segundo representa a Paleografia: um religioso sentado numa escrivaninha olha para trás enquanto escreve, como se estivesse em busca do que ficou no passado; o terceiro é uma Alegoria da Imprensa, vendo-se uma jovem que segura à mão direita um pergaminho, tendo a seu lado o inventor Gutenberg com um livro na mão esquerda e sua prensa móvel à direita; o quarto grupo simboliza a Iconografia: mostra figura feminina, de pé, provavelmente uma sibila, afastando um pergaminho do alcance de uma criança, que em vão tenta pegá-lo; o quinto grupo representa a Numismática, na forma de uma jovem que, sentada e concentrada, observa com uma lupa a medalha que tem à mão direita; o sexto e último grupo, na extrema direita da composição, é uma alusão à Bibliografia: junto a uma estante cheia de livros, com vários outros espalhados pelo chão, uma jovem mulher anota numa prancheta os títulos dos livros que um auxiliar lhe vai passando. 


5. RUA ÁLVARO ALVIM 24

EDIFÍCIO HEYDENREICH, PROJETO DE 1926 C. 

AUTOR DESCONHECIDO 
BAIXO-RELEVO EM ARGAMASSA 
1926


Em função de sua condição de Padroeiro dos Comerciantes, o deus romano Mercúrio -- Hermes, para os gregos -- é o campeão absoluto de aparições e estilizações nas fachadas cariocas. Ele está por toda parte, do pequeno comércio dos antigos sobrados ainda de pé do final do Século XIX ao majestoso Palácio Tiradentes, símbolo da opulência arquitetônica da Primeira República. 

Nas páginas seguintes está talvez o mais belo e carioca dos Mercúrios, um ornamento que bem justifica o nome desta publicação, pois que escondido numa fachada localizada num dos logradouros cujos palácios e sua riqueza arquitetônica mais violentamente roubam a atenção do pedestre: a Praça Floriano, mais conhecida por Cinelândia, onde estão o Teatro Municipal, o Palácio Pedro Ernesto e a Biblioteca Nacional. Mercúrio é retratado ao lado do Pão de Açúcar - o atrativo internacional maior da cidade à época -, e de um portentoso transatlântico prestes a despachar legiões de turistas ávidos por desfrutar a Cidade Maravilhosa. Datado e assinado: ANNO 1926. JW. 

Nem bem terminava em Paris a Exposição Internacional das Artes Decorativas e Industriais Modernas, em outubro de 1925, e seus cânones já estavam atravessando o Atlântico. A decoração externa do Edifício Heydenreich pode ser considerada dentre as primeiras manifestações sob inspiração art déco no Rio de Janeiro. 

A construção termina em ousado coroamento, num rico padrão geométrico à semelhança de uma grande ave de rapina de asas abertas. 


6. AVENIDA RIO BRANCO 241 
ANTIGO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
PROJETO DE ADOLFO MORALES DE LOS RIOS, 1905 

ATUAL CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL 
MANOEL FERREIRA TUNES (1850 C. -1921) 
ENTALHAMENTO EM MADEIRA 
1908


Esta monumental porta dupla, dentre três com o mesmo entalhamento, representa a alegoria da Justiça, coroada e de olhos vendados, diferentemente da representação da página ao lado, onde a mesma Justiça aparece sem a venda. Os olhos devem estar vendados no momento de julgar, pois somente a razão deve nortear as decisões do juiz, e não a evidência dos sentidos, que frequentemente confunde. Uma balança e seus dois pratos estão logo abaixo. Ao centro estão duas espadas, dispostas verticalmente e quase imperceptíveis. Na parte inferior, dois dragões desempenham sua função protetora ao conjunto. Em peroba do campo. Assinada e datada RIO - 5 - 908 - M. F. TUNES.


MATHURIN MOREAU (1822-1912) 
ESCULTURA EM FERRO FUNDIDO 
1909 C.


A presente escultura representa a Justiça e alguns de seus atributos: uma mulher jovem, calçando sandálias e vestindo túnica amarrada na cintura que lhe deixa à mostra apenas os braços, está sentada num trono e tem à mão direita, apoiada no chão, uma espada. Sobre seu joelho esquerdo está apoiada uma típica balança de dois pratos; no chão, junto ao pé esquerdo, um galho de carvalho está pousado sobre dois livros. A espada representa o rigor da Justiça, aquela que não hesita no momento de punir, e sua habilidade de separar a ficção dos fatos, simbolizados pelos seus dois gumes. A balança, utilizada para medir as quantidades das coisas materiais, é frequentemente empregada como uma metáfora da Justiça, que cuida para que cada homem receba o que lhe é devido, nem mais nem menos. O carvalho representa a força para julgar e os livros simbolizam a lei escrita. Na base, junto ao pé, inscrição indica a execução das Fonderies du Val d´Osne, na França.

7. RUA DA IMPRENSA 16
ANTIGO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE PÚBLICA 
PROJETO DE LUCIO COSTA, OSCAR NIEMEYER, CARLOS LEÃO, JORGE MACHADO MOREIRA, AFONSO EDUARDO REIDY E ERNANI VASCONCELOS, 1936 
CONSULTORIA DE LE CORBUSIER 

ESCULTURA EM BRONZE DE JACQUES LIPCHITZ (1891-1973)


A escultura acima, prevista para ornar a parede cega do auditório do Palácio Capanema, teve suas dimensões drasticamente reduzidas em relação ao projeto original. Chama-se Prometeu, mas recebeu do anedotário popular o apelido bem humorado “Batatais Engolindo um Frango”, em referência ao então goleiro da seleção de futebol. De forte significação simbólica, representa a aplicação do castigo divino impingido ao titã Prometeu por Zeus, irado porque o primeiro teria-lhe roubado o fogo no intuito de ajudar na criação do homem. Pela sentença, Prometeu ficaria eternamente acorrentado a uma montanha, sendo diariamente bicado no fígado por uma imensa águia. Na fachada de uma instituição cuja função simbólica remete à elevação do homem pelo conhecimento e a sua incontida vontade de progredir sempre, independente da adversidade, o artista, não satisfeito com os desígnios divinos de Zeus, aqui simbolizado pela águia, preferiu representar Prometeu oferecendo intensa resistência ao animal, chegando, por fim, a dominá-lo. Pode-se interpretar, a partir da cena criada por Lipchitz, que só a educação liberta o homem de sua sentença inicial, a de permanecer eternamente acorrentado aos grilhões da ignorância. 


8. RUA DO PASSEIO 90

ANTIGOS CASSINO FLUMINENSE, AUTOMÓVEL CLUB DO BRASIL E OUTROS 
PROJETO DE MANOEL DE ARAÚJO PORTO ALEGRE, 1855 

SEVERO DA SILVA QUARESMA, QUIRINO ANTONIO VIEIRA E JOÃO DUARTE DE MORAIS 
BAIXO-RELEVO EM ARGAMASSA 
1860 C.


Intitulado "O Gênio do Brasil presidindo às Musas" e executado ainda sob a atmosfera do Segundo Império, o baixo-relevo abaixo mostra um índio alado, coroado e com um cajado na mão, em postura altiva sobre um tablado, pronto para entregar uma coroa de louros para um conjunto de nove mulheres à sua volta, vestindo túnicas clássicas, seios à mostra e portando instrumentos musicais, ladeadas de dois eroi. 

O índio representa o elemento, a natureza e a cultura nacionais, em oposição às nove musas, que simbolizam a cultura clássica por excelência. Sua função aqui é a de presidir o pensamento da nação a partir da amálgama entre essas duas culturas tão distintas, a nacional e a clássica, para cuja união contribui a atuação simbólica dos elementos de ligação representados pelos dois eroi. 


9. RUA SETE DE SETEMBRO 133

CASA CAVÉ, PROJETO ORIGINAL DE 1890 C. 

AUTOR DESCONHECIDO 
ALTO E BAIXO-RELEVOS EM ARGAMASSA



No dia 13 de junho de 1903, Olavo Bilac escrevia na Gazeta de Noticias: "Oh! as compoteiras! Quem seria o mestre-de-obras, perverso e fatal, que teve em primeira mão a abominável idéia de plantar esses medonhos vasos de cimento no topo das casas do Rio de Janeiro?" A foto traz uma das "compoteiras" de Bilac, lotada de frutas e coroada por um grande abacaxi, em provável alusão à forma das famosas taças de sorvete servidas pela confeitaria. 

No alto do frontão, abaixo da “compoteira”, vê-se o monograma com as iniciais AC, referência ao proprietário do imóvel e fundador das Casas Cavé, o francês Auguste Charles Felix Cavé. Destaca-se, ainda, no interior redecorado na década de 1920, o mobiliário de Antonio Borsoi e a pintura vítrea com motivos indígenas americanos de Francisco Puigdomenech Colom, um dos quais pode muito bem ter sido o “mestre-de-obras perverso e fatal” condenado por Bilac pela execução das “compoteiras”. 


10. RUA DA CARIOCA 62 
CINE IDEAL, PROJETO DE MIGUEL BRUNO, 1906 

AUTOR DESCONHECIDO 
BAIXO-RELEVO EM ARGAMASSA 
1906


Ocupando três sobrados, dos números 60 a 64, o Cine Ideal foi inaugurado no dia 2 de outubro de 1909. Instada pela acirrada rivalidade com o vizinho Cinema Íris, no número 49 da mesma rua, a casa se autoproclamava a única sala de espetáculos da América do Sul que funcionava de noite ao ar livre, por conta de sua cúpula móvel em ferro, ainda hoje conservada, projetada pela companhia do engenheiro francês Gustave Eiffel, o mesmo da famosa torre de Paris e da Estátua da Liberdade, em Nova York. 

Abaixo, cornucópia e monograma com as iniciais VM, que remontam ao Visconde de Moraes, José Julio Pereira de Moraes, grande proprietário no Rio de Janeiro do começo do Século XX. 


11. LARGO DE SÃO FRANCISCO DE PAULA 4

ANTIGA BOAVENTURA DA SILVA & FERREIRA, FACHADA DE 1905 
ATUAL LANCHONETE PARQUE ROYAL 

AUTOR DESCONHECIDO 
BAIXO-RELEVO EM ARGAMASSA 
1905


O presente ornamento constitui exemplo único no Rio de Janeiro de utilização criativa e inusitada do tão difundido símbolo da cornucópia. Atributo entre os gregos da fertilidade, da fecundidade e da abundância e muito empregada na arquitetura, expelindo indiscriminadamente frutos, flores, alimentos e moedas, a cornucópia produz aqui riqueza distinta. Dispostas simetricamente no ornamento, os cornos ou chifres da abundância expelem aqui luvas, de um lado, e leques, de outro, sugerindo o estabelecimento de uma luvaria no local. 

Com efeito, ali funcionou, já a partir de finais do Séc. XIX, o depósito da empresa fabricante de luvas de pelica Boaventura da Silva & Ferreira, dos comerciantes Manoel Boaventura da Silva e Antonio Joaquim Ferreira, que também estavam estabelecidos no número 65 da Rua do Lavradio. 


12. RUA BUENOS AIRES 189 E 191 
PROJETO DE JOSÉ VALENTIM DA ROCHA, 1909 
PLAST REI 

AUTOR DESCONHECIDO 
BAIXO-RELEVO EM ARGAMASSA 
1909 C.


Por sua índole pacífica e sua obediência, o cordeiro é um dos animais mais identificados com Jesus Cristo na tradição iconográfica cristã. Aqui, ele repousa sobre o Livro das Revelações da Bíblia, marcado com os 7 lacres do Apocalipse. Junto à pata dianteira guarda uma cruz. 

É notável a influência religiosa na ornamentação da moradia comum no Rio de Janeiro. Os proprietários faziam colocar em seus imóveis, quase sempre no frontão, local de maior destaque na fachada, símbolos que remetessem à irmandade religiosa de sua devoção ou simpatia, no intuito de proteger-se a si próprios e também a construção contra eventuais sinistros. No caso em questão, o ornamento está associado à Irmandade de Nossa Senhora da Candelária. 


13. RUA TEÓFILO OTONI 152 
CIATEX FERRAMENTAS DE CORTE LTDA. 

AUTOR DESCONHECIDO 
BAIXO-RELEVO EM ARGAMASSA


A imagem remete ao Agnus Dei, referência a Jesus Cristo (Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo), mas apresenta, neste ornamento em particular, um acabamento incomum e curioso. O animal, longe de remeter a um singelo cordeiro, tem a cabeça de um burro, sugerindo uma eventual insatisfação entre o artista restaurador e seu contratante, ou ainda revelando total ignorância do primeiro quanto ao simbolismo cristão aí envolvido. 

14. RUA DO SENADO 312

HOMEOPATIA ÁTOMO 

AUTOR DESCONHECIDO 
ESCULTURA EM CIMENTO MODELADO



Do alto do edifício em estilo eclético da Homeopatia Átomo, um grande grifo guarda posição. Por sua condição de guardião protetor de tesouros, a imagem do grifo foi muito explorada pelos arquitetos na ornamentação de fachadas. Animal fantástico com corpo de leão e cabeça e asas de águia, o grifo é também símbolo da dupla natureza de Cristo, a divina e a humana. Nesse sentido deve ser visto o grifo que ornamenta a fachada da Sociedade Beneficente Luso-Brasileira, na Rua do Lavradio 100.

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