Sopro de modernidade no Centro do Rio
Além de torres, área degradada ganhará casarões reformados e piscinão contra enchentes
RIO - A revitalização do Centro vai muito além da Zona Portuária. Ainda este
mês ficam prontas duas das quatro torres do Centro Empresarial Senado. O
conjunto de torres espelhadas — uma de 20 pavimentos, outra de 18 e duas de 16,
interligadas por um átrio — fica no quadrilátero formado pelas ruas do Senado e
dos Inválidos, pela Avenida Henrique Valadares e pela Travessa Dídimo.
Empreitada de paulistas no coração do Rio — a incorporadora é a WTorre —, o
complexo, que vai ser totalmente alugado pela Petrobras, custou R$ 600 milhões.
Mas o raio de ação do empreendimento é bem maior. Do total, R$ 48 milhões foram
aplicados pela empresa em obras no entorno: 25 edificações históricas, a maioria
de estilo eclético, estão sendo reformadas e restauradas. Também foram feitas
obras de drenagem nas vias adjacentes. Ao lado dos novos prédios, um piscinão
promete absorver a água da chuva, prevenindo as constantes enchentes na região.
Com capacidade para receber dez mil funcionários e uma população flutuante de
quatro mil pessoas, o complexo, no entanto, já causa discussões sobre o impacto
urbano e arquitetônico no Centro antigo do Rio. Segundo a WTorre, em termos de
área construída, trata-se do maior prédio comercial da América Latina, com 186
mil metros quadrados. No subsolo dos prédios foram construídos cinco andares de
garagem subterrânea para dois mil carros. Subsecretário municipal de Patrimônio
Cultural, o arquiteto Washington Fajardo criticou a opção por uma garagem tão
gigantesca.
— Os recursos poderiam ter sido usados numa via que levasse pedestres até o
metrô.
Conselheiro do Instituto dos Arquitetos do Brasil no Rio, Luiz Fernando Janot
diz que uma garagem assim só poderia ter sido construída após estudos muito
aprofundados da CET-Rio.
— Os centros históricos do mundo estão restringindo cada vez mais a entrada
de carros, mas, no Rio, infelizmente, não há uma política para conter o
automóvel em nossa área central.
Projeto é concebido como ‘caleidoscópio’
Em nota, a CET-Rio afirmou que o projeto teve como contrapartida a execução
de diversas melhorias na acessibilidade da região, como, por exemplo,
intervenções para a transferência da travessia de pedestres em frente à Central
do Brasil, além de modificações nas vias e calçadas das ruas dos Inválidos, do
Senado, na Avenida Henrique Valadares e na Praça da República.
Arquiteto e historiador, Nireu Cavalcanti também critica a garagem
subterrânea e a arquitetura dos novos prédios.
— A reforma e o restauro de 25 edificações naquela área são uma coisa boa,
mas o prédio é uma agressão ao ambiente, e a garagem só vai estimular o aumento
de fluxo de carros, ao contrário do que ocorre em centros como o da Cidade do
México e o de Varsóvia.
Washington Fajardo é outro que elogia a revitalização da área trazida pela
obra:
— Se 10% das pessoas que frequentarão o prédio passarem a morar naquela área,
o empreendimento levará mais de mil famílias de classe média àquela parte do
Centro. É isso que revitaliza uma área — afirma o arquiteto.
Mas ele faz ressalvas ao projeto:
— Em termos de design arquitetônico, a cidade perdeu uma grande oportunidade,
pois o prédio não traz qualquer novidade, apenas reproduz o que se faz lá
fora.
Edo Rocha, arquiteto que assina o projeto, orgulha-se do fato de sua obra
pós-moderna refletir o passado da cidade:
— O projeto foi concebido para ser um caleidoscópio, refletindo as
edificações do entorno.
Reforma do primeiro prédio da polícia
As duas últimas torres serão entregues em outubro. Enquanto isso, as obras no
entorno estão em ritmo acelerado. Uma delas está praticamente pronta: a da
Sociedade Brasileira de Belas Artes, na esquina das ruas do Lavradio e da
Relação, talvez a única em estilo neoclássico. Em 1808, o prédio chegou a ser
utilizado como Tribunal da Relação. De estilo eclético, o Palácio da Polícia
Central, na esquina da Rua da Relação com Inválidos, também está sendo
recuperado. Projetado pelo arquiteto Heitor de Melo, o prédio foi o primeiro a
ser construído para ser sede da polícia no Rio. Nele também funcionou, a partir
da década de 1970, o Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Além de 18
sobrados de estilo eclético, encontra-se em fase de restauração a Garagem Poula,
que, à época do Império, serviu como cocheira do Imperador Pedro I.
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