Em 1º de janeiro de 1763 falecia o governador
Gomes Freire, um dos que mais fez pelo Rio de Janeiro, vítima do grande choque
causado pela perda da colônia do Sacramento (Uruguai) no sul, sob sua
responsabilidade. Para substituí-lo, a metrópole enviou no mesmo ano o Conde da
Cunha, que se tornaria o primeiro vice-rei estabelecido na cidade, promovida a
capital da colônia.
Arbitrário e antipático, porém trabalhador e
eficaz, o Conde da Cunha dedicou especial atenção às obras de defesa, pois ainda
era viva a lembrança e o trauma das invasões francesas de décadas antes, que
cobraram alto preço à comunidade. Além da melhora das fortificações, o vice-rei
criou, em 1764, o primeiro Arsenal de Marinha do Brasil, em terrenos doados pelo
Mosteiro de São Bento no século anterior.
Antiga Praia
de São Bento, onde foi instalado o Arsenal de Marinha em
1764,
local do atual 1º Distrito Naval
Nas modestas instalações coloniais foi construída
em 1770 a nau D. Sebastião, que serviria a coroa portuguesa por muitos anos,
tendo inclusive transportado em 1817 a princesa D. Leopoldina da Europa para
nossas terras, onde se tornaria esposa de D. Pedro I. Apesar de suas grandes
realizações, principalmente quando se leva em conta as limitações materiais, o
Arsenal não impressionava, sendo descrito pelo inglês John Lucock, como um grupo
de "miseráveis telheiros".
Sua situação mudaria a partir de 1822, na
Independência, com a compra de equipamentos e contratação de oficiais
estrangeiros, como Lord Cochrane, Primeiro-Almirante da Marinha Imperial. Mas o
desenvolvimento técnico e a expansão do Arsenal se transformariam em trabalho
contínuo, secular. Uma das primeiras e necessárias obras era a construção de um
dique seco, pois o único existente se localizava no Maranhão, distante e com
limitações.
O primeiro dique teve as obras iniciadas em 1824,
mas só seria inaugurado em 1861, depois de quase quarenta anos, e seu primeiro
nome foi Dique Imperial. Em 1874, entrava em serviço o dique Santa
Cruz, e, em 1928, mais cem anos após o inicio das obras do primeiro,
finalizou-se o terceiro dique, chamado então de Rio de Janeiro, a maior
instalação de reparo da América do Sul.
Durante este período, o Arsenal de Marinha sofreu
grande evolução tecnológica, habilitando-se na construção de diversos tipos de
embarcações destinadas à defesa das águas territoriais, sendo inclusive capaz de
produzir submarinos, um feito excepcional, pelo menos em termos do panorama
sul-americano.
No momento em que a economia brasileira se
encontra em plena expansão, torna-se cada vez mais necessária a renovação e
ampliação das estruturas de transporte do país, com destaque para o transporte
marítimo, além do ferroviário, por décadas relegados ao segundo plano por um
rodoviarismo cego e sem futuro, o qual impediu a construção de uma
infraestrutura que permitisse uma ligação eficaz do Brasil com o mundo e as
trocas comerciais que este possibilita. Além disso, as riquezas existentes na
plataforma continental que começam a ser exploradas vão com certeza demandar uma
maior proteção do que a atual. Tudo isso coloca em destaque o papel do
transporte marítimo e a defesa das águas brasileiras, na qual a Marinha tem
papel fundamental.
Nesse sentido, torna-se oportuna a lembrança do
Conde da Cunha e suas preocupações, as quais o levaram a fundar o Arsenal 1764
para melhor proteger a colônia dos ataques de aventureiros, sempre a espreitar a
riqueza alheia desprotegida, tanto então como agora.
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