Vazamento de água tratada inunda há um mês cocheiras históricas em São Cristóvão
Em 27 dias, o desperdício chega à conta de 4,5 milhões de litros
Publicado:
RIO - As cocheiras imperiais, que fizeram parte da Quinta da Boa Vista no
passado, agora têm sua permanência em São Cristóvão duplamente ameaçada. Além da
possibilidade de despejo pela prefeitura, que pretende construir um
estacionamento onde hoje fica o Centro Hípico do Exército, um vazamento da Cedae
alagou parte do terreno e já começa a abalar a estrutura das cavalariças. O
problema na tubulação, que abastece a Zona Norte, o Centro e um trecho da Zona
Sul e passa por baixo do Centro Hípico, se arrasta desde 17 de fevereiro, a
sexta-feira anterior ao carnaval, quando a água começou a minar e a se espalhar
por todo o espaço.
Considerando que o problema vem provocando o despejo de dois litros por
segundo, como afirma a Cedae, em 27 dias o desperdício chega à surpreendente
conta de 4,5 milhões de litros de água tratada. O volume daria para encher quase
duas piscinas olímpicas. A mesma quantidade também seria suficiente para o
consumo de cerca de cinco mil famílias (de quatro pessoas) num dia, levando-se
em conta que uma pessoa consome diariamente, em média, 200 litros de água.
No dia 19 de fevereiro, domingo de carnaval, equipes da Cedae estiveram no
local e, com o apoio de máquinas, abriram buracos para verificar a origem do
vazamento e para ajudar no escoamento da água. A companhia não voltou mais ao
Centro Hípico, na Rua Bartolomeu de Gusmão, e o resultado é um terreno de cerca
de 400 metros quadrados todo revirado, com uma grande cratera de oito a dez
metros de profundidade e dois metros de largura cheia de água, parte jogada no
meio da rua por um canal improvisado. Esta área era usada pelos militares como
campo de futebol e de obstáculos para os cavalos.
Cedae aguarda temperatura baixar
O presidente da Cedae, Wagner Victer, garante que o vazamento está sendo
monitorado pela empresa, mas não dá uma data para o conserto da tubulação, uma
subadutora com um metro de diâmetro (no trecho do centro hípico) por onde passam
1.800 litros por segundo. O desperdício, explica a companhia, é provocado por
uma pequena fissura na rede ligada à adutora responsável por levar água a cerca
de um milhão de pessoas no Rio.
— O vazamento é ínfimo, representa menos de 1% da água que passa ali, mas
parece muito grande porque fica confinado no local. Estamos esperando a
temperatura cair para fazer a intervenção. Porque você tem que cortar a água de
parte da Zona Norte, do Centro e da Zona Sul e de toda a Grande Tijuca. Para não
ter impacto, o melhor é esperar — afirma o presidente da Cedae, explicando que a
queda de temperatura é acompanhada por uma diminuição no consumo.
O trabalho de reparo, segundo Victer, levará menos de oito horas. Ele diz que
se realizado num dia de tempo ameno, o impacto será menor, sendo possível
transferir água de outros locais para abastecer as regiões atendidas pela
adutora.
A trégua no calor, condição para que o conserto seja feito, ainda pode
demorar. Ontem, por exemplo, a cidade teve uma das dez tardes mais quentes do
ano, registrando 38,5 graus em Santa Cruz, de acordo com o Instituto Nacional de
Meteorologia (Inmet). Nas ruas, alguns termômetros digitais chegaram a marcar 43
graus, valor que não é oficial. O Instituto Climatempo prevê para hoje máxima de
39 graus.
O cenário desolador também se repete nas cocheiras: das 50 baias existentes,
pelo menos quatro já foram interditadas, sendo que uma começou a afundar. A vala
aberta pelas máquinas da Cedae também pressiona o muro da maior cocheira do
Centro Hípico, conjunto que completou cem anos em 2011 e abriga 43 cavalos. Para
piorar, a água que jorra do solo das cavalariças já forma um rio. O mesmo
acontece na pista de equitação, onde a água corre 24 horas por dia, obrigando o
Exército a inutilizar parte da área.
Apesar da dimensão tomada pelo vazamento, que faz brotar água por toda parte,
militares responsáveis pelo Centro Hípico se viram mergulhados na burocracia da
Cedae. De acordo com a veterinária e tenente da reserva Ana Stela Fonseca, que
trabalha no local, foram feitas várias reclamações, que geraram pelo menos sete
protocolos. Até ontem, 26 dias depois, nenhuma nova providência havia sido
tomada pela companhia. Além de prejudicar as instalações históricas, militares
temem que a água empoçada se transforme num foco de mosquito da dengue.
— Na sexta de carnaval, todo o Centro Hípico ficou debaixo d´água, com água
até a canela. A Cedae veio aqui e abriu uns buracos, mas os cavalos não podem
mais usar o terreno (o de 400 metros quadrados, ao lado da sede do Centro
Hípico) nem ficar nas baias interditadas — conta Ana Stela, revelando que os
militares fizeram um mutirão para limpar a rede pluvial, que pode não suportar a
vazão caso chova mais forte na cidade.
A Secretaria municipal de Obras afirma que ainda não há um projeto pronto
para o estacionamento, cuja ideia poderá sair do papel para a Copa de 2014 ou
para as Olimpíadas de 2016. Também estão previstas instalações de apoio ao
Maracanã na mesma área. A prefeitura estuda o melhor modelo para obter a
propriedade — se por meio de desapropriação, compra ou doação. O Comando Militar
do Leste (CML) informou, em nota, que o endereço faz parte dos imóveis que estão
nas negociações da 1 Região Militar com a prefeitura e governo do estado para
integrar as ampliações do complexo do Maracanã.
Um comentário:
o centro hipico do exercito faz parte da historia da cavalaria no rio de janeiro ja deveria ha muito ser tombado pelo patrimonio, è com tristeza que recebi esta noticia pois parte da minha juventude passei ali na epoca do saudoso cap. luis felipe dick.
Postar um comentário