O Palace Hotel |
Escrito por Paulo Pacini
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Qua, 14 de Março de 2012 13:02
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De todas obras que modificaram a paisagem do Rio
de Janeiro, a Avenida Central (Rio Branco), foi sem dúvida a mais importante,
não só por sua função enquanto via pública, mas como evento a transformar
padrões estéticos, propondo um novo modelo de funcionalidade urbana. Outras
empreitadas lhe sucederam, algumas até de maior porte, mas nenhuma igualou seu
impacto histórico.
A idéia original, contudo, apontava para uma
avenida por segmentos retos, entre a Prainha (praça Mauá), o Largo da Carioca e
o da Ajuda (Cinelândia), seguindo um modelo parisiense, referência, aliás, de
onde tudo foi decalcado. Esse projeto cedeu posteriormente lugar a um padrão
retilíneo, ligando a Prainha ao Largo da Ajuda, afastando-se do traçado atual,
se tomarmos como referência seus pontos extremos. Entretanto, isso implicava a
demolição da Igreja de N.Sª da Conceição e Boa Morte, e, não se sabe se por
pressão de terceiros ou simples receio — seguro morreu de velho — o eixo da
avenida foi desviado, agora tangenciando o antigo templo, situado na esquina da
rua do Rosário.
Palace Hotel, situado na esquina da Av. Central com Almirante Barroso. O prédio na esquina da Rua México é o Teatro Fênix.
Ao fundo, o Morro
do Castelo, em foto de 1920
Essa mudança, por sua vez, gerou outras
conseqüências. A rua da Ajuda, que originalmente seria preservada, desapareceria
quase completamente, e a dos Ourives (Miguel Couto) perderia um grande trecho,
não mais tendo unidade enquanto via. O fato mais importante, contudo, foi que,
para se efetivar o projeto, tornou-se necessária a demolição de parte do Morro
do Castelo, principalmente no trecho do Largo da Ajuda (Cinelândia).
O desaparecimento da rua da Ajuda levou consigo o
Hotel Brisson, no qual, em seu jardim, funcionava o antigo teatro Fênix
Dramático, cujos terrenos foram a seguir colocados à venda, com a condição de
que o comprador também construísse um teatro, garantindo a continuidade da
tradição artística local. A propriedade foi adquirida pela família Guinle, com a
intenção de criar um estabelecimento hoteleiro. Encarregou-se do projeto o
engenheiro Januzzi, construindo tanto o hotel, que recebeu o nome de Palace
Hotel, quanto o teatro, chamado Fênix em homenagem ao anterior, demolido nas
obras da avenida.
Com oito andares e instalações luxuosas, o Palace
Hotel fez parte da primeira geração de imóveis da avenida, seguindo um modelo
arquitetônico da época que, junto com a limitação do número de andares por
questões técnicas, produziu obras relativamente agradáveis e pouco agressivas, o
que sem dúvida contribuiu para a assimilação pelo público da nova proposta de
cidade. O teatro Fênix, na esquina da rua México, era também uma construção
esmerada, e, tendo começado como cinema, foi posteriormente teatro, como devia,
cassino, e, finalmente, voltou a ser teatro.
Nenhuma das construções ultrapassou a década de
1950, assim como quase todos os imóveis da Avenida Central, os quais se
imaginava que durariam um século. Sem a proteção de uma legislação que
preservasse o aspecto da antiga avenida, tal como ocorre em Paris, modelo no
qual se espelhou, sucumbiu aos mesmos interesses que a construíram, cujo único
e eterno objetivo é o lucro, seja de que modo for.
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