Igrejas históricas do Centro do Rio são alvo de pichações
Três delas são tombadas pelo Iphan. Todas têm pelo menos 200 anos de idade
RIO - Lembranças concretas da história do Rio e lugares de cultivo da fé para
muitos cariocas, igrejas do Centro têm sido alvo de atos de desrespeito que não
fazem jus à sua importância. Durante a última semana, a leitora Bluna Teixeira
registrou pichações nas igrejas de Nossa Senhora da Candelária, da Ordem
Terceira do Carmo, de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos
- estas três tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e
Nacional (Iphan) - e de São Gonçalo Garcia e São Jorge.
Nenhuma dessas quatro igrejas está de pé há menos de 200 anos. Segundo o
Iphan, a da Candelária começou a ser erguida em 1775, e foi concluída só no
século XIX. Teve sua primeira missa celebrada em 1811. As obras de construção da
Ordem Terceira do Carmo, na Rua Primeiro de Março, são anteriores, tendo início
em 1755. Os campanários das torres só foram terminados quase cem anos depois, em
1850. A da Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, na Rua da
Uruguaiana, é ainda mais antiga: já estava praticamente pronta em 1737. E a
igreja de São Gonçalo Garcia e São Jorge foi construída e concluída durante a
segunda metade do século XVIII.
Talvez por terem sido erguidas há tanto tempo, as igrejas não estavam
preparadas para lidar com os vândalos do século XXI. A tinta disparada pelos
pichadores já danifica, por si só, as pedras usadas nas construções. E a limpeza
das pichações, caso feita de forma incorreta, pode causar uma deterioração ainda
maior:
- Pode parecer contraditório, mas quanto mais as pedras são limpas, mais elas
se desgastam. A limpeza pode ser muito agressiva por causa dos produtos químicos
que são usados. Às vezes, é melhor não limpar que fazê-lo de qualquer jeito -
explica a arquiteta Catherine Gallois, especialista em elementos pétreos aqui do
Iphan.
O ideal, segundo Catherine, é limpar as pichações o mais rapidamente
possível, pois assim fica mais fácil de removê-las; ou seja, menos produtos
químicos precisam ser utilizados. Se usados sem o devido cuidado, eles podem
desgastar ainda mais as antigas superfícies, já afetadas pelo tempo e pela
poluição deixada no ar pelos veículos. Por isso, é preciso usar mão de obra
especializada:
- Há alternativas melhores, como a aplicação de ceras para proteger as pedras
de eventuais pichações. Caso a pedra seja pichada, é possível remover a tinta
usando jatos de vapor d’água sobre a camada protetora. Mas essas tecnologias são
importadas, ainda são muito caras - conta a arquiteta.
A responsabilidade pela manutenção de bens tombados fica a cargo de seus
donos ou mantenedores; no caso das igrejas, as irmandades. A da Ordem Terceira
do Carmo foi a única a responder à reportagem:
- Está prevista para agosto uma reforma da igreja. Então, devemos resolver o
problema das pichações - disse Luiz Roberto Melo, supervisor da igreja.
O GLOBO não conseguiu contato com as igrejas de Nossa Senhora do Rosário e
São Benedito dos Homens Pretos e com a de São Gonçalo Garcia e São Jorge. A
igreja de Nossa Senhora da Candelária foi contatada, mas seus responsáveis não
foram localizados para comentar o problema das pichações.
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