Falta mulher (de bronze) no Rio
Das 230 estátuas cariocas, apenas 13 representam personalidades femininas
RIO - Enquanto existem 217 bustos ou estátuas de homens célebres espalhados
pela cidade, apenas 13 mulheres têm o mesmo tipo de homenagem. Os números,
levantados pela Secretaria de Conservação e Serviços Públicos, ajudam a
materializar uma história tradicional, essencialmente feita por e para homens,
como observa a historiadora Maria Paula Araújo, da UFRJ.
— Nos últimos 20 anos, a historiografia tem dado maior espaço para o papel da
mulher, mas isso ainda não se refletiu nos monumentos históricos. Há sempre um
intervalo entre a mudança de padrões e comportamentos e a manifestação pública
oficial — comenta a historiadora.
Segundo o secretário de Conservação, Carlos Roberto Osório, a meta é que as
mulheres tenham tanto destaque na paisagem do Rio quanto têm, hoje, na vida
política e social.
— Apesar de já esperar que houvesse um número maior de monumentos masculinos,
fiquei espantado com esse desbalanço tão grande. O Rio é a cidade do Brasil com
maior acervo de arte exposto em espaço público, um dos maiores da América
Latina. No entanto, esse acervo conta com pouquíssimas esculturas de mulheres de
renome. Vamos trabalhar para corrigir isso — afirma Osório.
A Secretaria de Conservação e a Secretaria de Patrimônio Cultural lançarão um
concurso, aberto à votação popular pela internet, para escolher a próxima
personalidade feminina homenageada com um busto ou estátua. Washington Fajardo,
presidente da Comissão de Paisagem Urbana — órgão que dá o aval para a
construção de monumentos —, conta que serão convidadas uma curadora e uma
artista, ambas mulheres, para executar a obra mais votada.
— Estamos correndo para conseguir lançar o concurso ainda este mês, e, junto
com ele, lançar o novo formato da Comissão de Paisagem Urbana, que tem a missão
de criar mais iniciativas como esta — diz Fajardo.
Ao longo deste mês, a prefeitura vai restaurar os 13 monumentos femininos da
cidade. A ação começa hoje, no Dia Internacional da Mulher, com a limpeza da
estátua de Ana Néri, na Praça da Cruz Vermelha.
— A estátua de Ana Néri é bem antiga e quase não é percebida, embora esteja
numa área de grande circulação. Muitas pessoas sequer sabem quem foi esta mulher
tão importante para a nossa história — diz Vera Dias, arquiteta que, há 15 anos,
é responsável pela manutenção dos monumentos e chafarizes da cidade.
Vera ressalta que há bastante estátuas de figuras femininas nas ruas do Rio,
mas é preciso aumentar o número das que representam mulheres célebres. A última
que se encaixa neste perfil foi erguida em 2008, na Praça Itália, no Centro. É
da Imperatriz Tereza Cristina, esposa de Dom Pedro II.
Quem foram essas mulheres?
- Chiquinha Gonzaga (Passeio Público, no Centro)
Primeira instrumentista de renome no Brasil, ela introduziu a música popular
nos salões elegantes. Participou do movimento pela abolição da escravatura e é
autora da primeira canção carnavalesca, "Ó Abre Alas".
- Ana Néri (Praça Da Cruz Vermelha, no Centro)
Nascida em 1814, ela foi a primeira enfermeira brasileira. Ana trabalhou como
voluntária na Guerra do Paraguai.
- Carmen Gomes (Praça Paris, na Glória)
Cantora lírica, fez sucesso nos anos 1930 com repertório italiano. Fez parte
da embaixada artística que acompanhou Getúlio Vargas à Argentina
- Vera Janacopoulos (Praça Paris, na Glória)
Cantora lírica, natural de Petrópolis. Após sua morte, em 1956, foi fundado
no Rio o Círculo de Artes Vera Janacopoulos.
- Carmem Miranda (Praça Carmem Miranda, na Ilha Do Governador)
Nascida em Portugal, a "pequena notável" foi grande representante da música
brasileira no exterior. Participou de nove filmes e 154 discos.
- Clarisse Lage Índio Do Brasil (Largo dos Leões, no Humaitá)
Carioca, foi baleada em 1919 por um desconhecido na rua, o que ajudou a
aumentar a fiscalização sobre venda e porte de armas.
- Imperatriz Leopoldina (Quinta Da Boa Vista)
Primeira imperatriz do Brasil, esposa de Dom Pedro I.
- Maria Augusta (Avenida Pepe Lopes, na Barra Da Tijuca)
Construiu o primeiro quiosque da praia da Barra. Os dados de sua biografia
são escassos.
- Zuzu Angel (Estrada Lagoa-Barra, em São Conrado)
Estilista, ela inovou ao fazer alta costura com rendas cearenses e estampas
de chita. Zuzu conquistou as vitrines internacionais nos anos 60. Ela é mãe do
desaparecido político Stuart Angel.
- Sarah Kubitschek (Praça Sarah Kubitschek, em Copacabana)
Ex-primeira dama do Brasil, esposa de Juscelino Kubitschek
- Princesa Isabel (Av. Princesa Isabel, em Copacabana)
Assinou a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil. Foi a última princesa
do Império.
- Ana Carolina Da Costa Lino (Laranjeiras)
Estudante de 18 anos assassinada na saída do Túnel Santa Barbara, em
1998.
- Imperatriz Tereza Cristina (Praça Itália, no Centro)
Última imperatriz do Império, esposa de Dom Pedro II. Estudiosa da cultura
clássica, ela trouxe vários artistas e professores europeus para o
Brasil.
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