O Relógio da Glória |
Escrito por Paulo Pacini
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Qua, 07 de Março de 2012 11:37
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Com a paisagem dominada pelo antigo e belo
templo, o bairro da Glória tem longa história, estendendo-se até o início da
colonização do Rio de Janeiro, quando os primeiros habitantes por ali começaram
a passar, primeiro para obter água potável no rio Carioca, e depois para
alcançar, por Botafogo, o engenho de cana da Lagoa, uma iniciativa do governador
Antônio Salema que não prosperou.
O nome do bairro foi dado a partir da ermida de
taipa dedicada a N.Sª da Glória, construída por Antônio Caminha durante o século
XVII, no outeiro chamado anteriormente de Leripe, o qual foi um dos cenários do
combate final, em 1567, entre portugueses e colonos franceses, que se
estabeleceram na área anos antes. As histórias envolvendo a ermida forneceram
material para o romance de José de Alencar "O Ermitão da Glória", publicado em
1873, onde Caminha é retratado como um ermitão, o que na verdade se distancia
dos fatos, pois este teve família e legou patrimônio aos descendentes. Apesar
disso, foi realmente quem erigiu o primitivo templo, que floresceu e deu origem
ao atual.
Relógio da Glória, verdadeiro símbolo do bairro desde 1905
Com sua icônica igreja, a Glória se constituiu em
verdadeiro portal para a zona sul da cidade com suas novas e pouco exploradas
terras, pois, durante muito tempo, o único caminho por terra passava por onde é
hoje a rua do Catete. Durante o século XIX, duas novas construções marcaram o
bairro, o Mercado da Glória, de 1858, que não atingiu seu propósito e entrou em
decadência, e a instalação da The Rio de Janeiro City Improvementes
Company, conhecida como "City", de 1864, primeiro sistema de esgotamento
sanitário da cidade, em prédio ainda existente na praça do Russell pertencente à
Seaerj.
No início do século passado, as reformas feitas
na cidade durante a gestão do prefeito Pereira Passos também transformariam a
Glória, que ainda possuía o antigo cais. Este desapareceria com um aterro, que,
junto com a demolição do velho mercado, formaria uma nova praça. Além disso, foi
reconstruído o paredão entre a rua da Glória e a rua à beira-mar ao lado do
cais, e nele foram colocados os balaústres de metal retirados da Praça
Tiradentes, que passou a ser aberta. A reforma do paredão foi complementada com
a colocação de um relógio no alto de uma coluna de pedra.
De fabricação alemã e tendo quatro lados, sua
história inclui um fato curioso, ligado ao desenvolvimento da própria cidade.
Como nos relata Charles Dunlop, o relógio era movido a energia elétrica, mas
essa ainda não era distribuída na Glória. Sua única fonte local eram os cabos
elétricos dos bondes da Cia. Ferro-Carril do Jardim Botânico, a qual, para que a
nova melhoria pudesse ser inaugurada, cederia energia com a ressalva que, em
caso de pane do mesmo relógio, esta lhe seria cortada. Assim se fez, e ele pôde
entrar em funcionamento já em 1905.
Desde então o relógio se tornou mais um ícone do
bairro, colocando-se ao lado de outros mais antigos e destacados, como a própria
igreja de N.Sª da Glória do Outeiro e o chafariz colonial. Sua imagem pode ser
vista em incontáveis fotos, testemunhando a história do bairro. Como outras
peças do patrimônio histórico, contudo, sofre os mesmos problemas crônicos de
abandono e vandalismo, sendo necessária vigilância e cuidados contínuos para que
monumentos como esse, verdadeiros símbolos da cidade, possam ser preservados em
favor das gerações futuras.
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