FALE COM OS MONARQUISTAS !

FAÇA PARTE DO NOSSO GRUPO NO YAHOO

Inscreva-se em DMB1890
Powered by br.groups.yahoo.com

sábado, 18 de maio de 2013

O Beco do Cairu


Quarta, 17 Abril 2013 12:24

O Beco do Cairu

Escrito por
As primeiras vias de acesso partindo do centro do Rio de Janeiro dos primeiros tempos tiveram seu traçado determinado por uma característica comum, de serem a única opção a evitar os alagados. Os trajetos, portanto, eram a exceção — ilhas de terra firme em um oceano pantanoso — e, por conta disso, poucos existiram durante muito tempo, como o Caminho de Capueruçu, hoje as ruas da Alfândega e Moncorvo Filho, início de um dos acessos à zona norte, ligando o centro até o começo do Catumbi.
Procurando evitar o que era impraticável, foram preferivelmente abertos caminhos junto aos morros, em cota pouco superior a dos charcos, como o de Matacavalos (rua do Riachuelo), também em direção à zona norte e ao engenho dos Jesuítas. Para comunicação com a zona sul, abriu-se uma via indo da praia e porto dos Padres da Companhia, futura praia D. Manuel, onde é hoje a rua de mesmo nome, se dirigindo à lagoa e Convento de Santo Antônio, no mesmo trajeto da atual rua São José. A uma certa altura havia uma bifurcação à esquerda, a qual, também seguindo junto ao Morro do Castelo, ia dar à Ermida da Ajuda, que ficava onde é a atual Câmara dos Vereadores, espaço seco entre as lagoas de Santo Antônio e a do Boqueirão. Daí seguia-se por onde é a rua Evaristo da Veiga para alcançar a Lapa e daí a Glória.

beco_cairu

Rua Vieira Fazenda, antigo Beco do Cairu. Incompreensível em
meios aos prédios atuais, é testemunha de um processo
secular de transformação do centro do Rio de Janeiro.



Esse caminho da rua São José até a Ajuda se tornaria uma das principais ruas do Rio colonial e do século XIX, a Rua da Ajuda. Sua ocupação começou bem cedo, fazendo parte do processo secular de conquista da várzea quando a cidade se expandiu desde o núcleo original do Morro do Castelo. A rua definia aproximadamente um limite, pois durante todo século XVII e início do seguinte, havia uma grande lagoa dominando o que é o Largo da Carioca, chamada de lagoa de Santo Antônio. Sua drenagem foi lenta, e, mesmo após a inauguração do primeiro chafariz da Carioca, em 1723, a área permanecia em grande parte desocupada, pelas condições desfavoráveis do terreno.
O chafariz, contudo, trouxe vida nova ao local, e acelerou a ocupação. Uma das primeiras consequências foi a melhoria e aterramento final de um caminho que margeava a antiga lagoa, que teve terrenos aforados desde meados do século XVIII. Essa via, mais um acesso na direção da zona sul, ligando a rua da Vala (Uruguaiana) e da Cadeia (Assembléia) com o Largo da Ajuda (Cinelândia), recebeu o nome de Guarda Velha (13 de maio), em função de um posto de guarda instalado junto ao chafariz da Carioca por conta das brigas cotidianas entre escravos que lá iam abastecer os tonéis.
Durante o governo de Gomes Freire (1733-63) foi aberta uma via para facilitar a comunicação entre a rua da Ajuda e a da Guarda Velha, que recebeu o nome de Beco do Propósito, sendo a origem da atual Avenida Almirante Barroso. Tempos depois, também foi aberta outra rua ligando a Ajuda e a Guarda Velha, que recebeu o nome de Beco do Carvalho (rua Manoel de Carvalho). Finalmente, no século XIX, surgiria uma passagem entre os dois becos, que recebeu o nome de Beco do Cairu (rua Vieira Fazenda), por ter lá morado o Visconde da Cairu, na época de D. João VI e D. Pedro I.
José da Silva Lisboa nasceu em Salvador em 1756, foi erudito e escritor, com conhecimentos em história, política, economia, direito, etc. Especializou-se em direito mercantil e marítimo, sobre os quais escreveu o livro Princípios de Direito Mercantil e Leis da Marinha. Suas obras e influência tiveram crédito no decreto de abertura dos portos às nações amigas, de 1808. Tendo sido personagem notável em seu tempo, nada mais natural que sua casa no pequeno beco desse nome a esse.
Hoje, a pequena passagem não é quase notada, e parece até não fazer sentido em meio aos prédios de grande porte à sua volta. Seu traçado, contudo, é testemunha de uma história secular e, por ter sobrevivido ao tempo, é uma referência que ajuda na compreensão das transformações ocorridas no centro do Rio desde o início do século passado.

Nenhum comentário: