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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

ENTRE O CÉU E O MAR . . .


Entre Céu e Mar


Escrito por Paulo Pacini   
Qua, 15 de Fevereiro de 2012 09:22
Quase todos os movimentos de grande transformação social, merecedores do nome revolução ou não — muitos golpistas e ditadores gostam de usar a expressão para enobrecer e legitimar suas iniciativas escusas — são feitos por indivíduos em grande parte idealistas e com intenções sinceras de transformar a sociedade para melhor. Assim aconteceu com nossa República, um golpe sem apoio popular levado adiante por militares que desejavam imprimir um modelo de desenvolvimento baseado nos princípios da filosofia positivista de Augusto Comte.
 
Entre os associados incluíam-se fazendeiros descontentes com o fim da escravidão e muitos intelectuais, alguns de confeitaria, que liam com avidez livros e jornais que chegavam de Paris nos paquetes, procurando se alinhar  com as posições dominantes no mundo francês das idéias. Aguardando sua vez, porém, estavam os eternos espertalhões, que, em seu fisiologismo reptiliano, viam o acesso ao poder como a abertura de amplas oportunidades de enriquecimento, jamais imaginadas.
 
Não tardaram em colocar mãos à obra: a partir de 1890, sua ação fez o país ingressar em um período conhecido na história como Encilhamento, quando o governo emitia concessões para todo tipo de empreitada, com as quais muitos enriqueceram. Nessa época, ter algum conhecimento podia tirar rapidamente da miséria um indivíduo ousado e sem princípios. Por exemplo, o protegido de algum ministro recebia de mão beijada a concessão para exploração de uma mina de prata em Goiás, a qual ele nunca veria, pois não tinha recursos nem para a viagem até lá. Só restava  vender com profundo pesar a concessão para uma grande empresa, e se consolar com as centenas de contos ganhos sem fazer absolutamente nada...

 
Av_niemeyer

A recém-inaugurada Av. Niemeyer, originalmente destinada a uma ferrovia
 
Uma das empresas concessionárias de então foi a Companhia Viação Férrea Sapucaí, que pretendia construir uma ferrovia indo de Botafogo até Angra dos Reis, em uma distância de 193 quilômetros. Ao contrário da maioria das iniciativas do encilhamento, havia realmente a intenção de materializar o projeto, e, a partir de 1891, começaram os trabalhos. Conforme nos relata Charles Dunlop, já havia sido aberta a boa parte da estrada quando surgiu um conflito com a Cia. de Melhoramentos da Lagoa, que considerava que a linha férrea prejudicaria seus trabalhos. Como era esperado, a empresa não dispunha de capital, e as despesas adicionais implicadas na mudança do trajeto da linha tornaram impossível o prosseguimento da empreitada. Com isso, a obra foi abandonada.
 
Anos depois, em 1913, uniram-se os vários trechos abertos para a ferrovia na encosta do morro do Vidigal, uma iniciativa do diretor do Ginásio Anglo-Brasileiro para melhorar o acesso à sua unidade escolar, o que incluiu o prolongamento da estrada até o Leblon. Logo a seguir, o comendador Niemeyer, proprietário de terras no local, estendeu a estrada até a Praia da Gávea (São Conrado), e esta foi inaugurada em 1916. Logo a seguir, a via seria alargada até a configuração atual, e o nome Niemeyer é uma lembrança do comendador que legou à cidade esta que é uma de suas mais belas estradas, onde se contempla um panorama inesquecível.
 
É difícil imaginarmos hoje, quando a avenida é percorrida por um  tráfego intenso de automóveis, ocasionado pela inexistência de um sistema de transporte de massa ligando a Barra da Tijuca ao resto da cidade, que esse antigo caminho, aberto entre céu, mar e montanhas destinava-se a uma ferrovia litorânea, do Rio até Angra. A situação especulativa durante o encilhamento, contudo, que mudou o destino da via, felizmente não impediu que essa acabasse sendo incorporada à vida da cidade.

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